O duplo caráter do trabalho materializado
na mercadoria
A mercadoria apareceu-nos, inicialmente,
como duas coisas: valor-de-uso e valor-de-troca. Mais tarde, verificou-se que o
trabalho também possui duplo caráter: quando se expressa como valor, não possui
mais as mesmas características que lhe pertencem como gerador de valores de uso.
Fui quem, primeiro, analisou e pôs em evidência essa natureza dupla do trabalho
contido na mercadoria. Para compreender a economia política é essencial
conhecer essa questão, que, por isso, deve ser estudada mais de perto.
[...] Todo trabalho é, de um lado, dispêndio
de força humana de trabalho, no sentido fisiológico, e, nessa qualidade de
trabalho humano igual ou abstrato, cria o valor das mercadorias. Todo trabalho,
por outro lado, é dispêndio de força humana de trabalho, sob forma especial,
para um determinado fim, e, nessa qualidade de trabalho útil e concreto, produz
valores-de-uso *.
* [nota da 4 edição: a língua inglesa tem a
vantagem de possuir duas palavras distintas para designar esses dois aspectos diferentes
do trabalho. O trabalho que gera valores-de-uso e se determina
qualitativamente, chama-se de “work”, distinguindo-se, assim, de “labour”, o
trabalho que cria valor e que só pode ser avaliado quantitativamente].
Marx, Karl (1818-1883)
O Capital, Livro Primeiro, volume 1. Tradução de
Reginaldo Sant’Anna. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1971, p 48;
54;55
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