sexta-feira, 25 de maio de 2018

Isegoria

A liberdade do dinheiro exige trabalhadores presos no cárcere do medo, que é o cárcere mais cárcere de todos os cárceres. O deus do mercado ameaça e castiga; e bem o sabe qualquer trabalhador, em qualquer lugar. Hoje em dia, o medo do desemprego, que os empregadores usam para reduzir seus custos de mão de obra e multiplicar a produtividade, é a mais universal fonte de angústia. Quem está a salvo de ser empurrado para as longas filas dos que procuram trabalho? Quem não teme ser transformado em um “obstáculo interno”, isso para usar as palavras do presidente da Coca Cola, que há um ano e meio explicou a demissão de milhares de trabalhadores dizendo “eliminamos os obstáculos internos”?
E uma última pergunta: diante da globalização do dinheiro que divide o mundo entre domadores e domados, seremos capazes de internacionalizar a luta pela dignidade do trabalho? Haja desafio... 

Galeano, Eduardo (1940-2015)

O teatro do bem e do mal.L&PM Pocket, 2002. p 93-94


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