A liberdade do dinheiro exige trabalhadores presos
no cárcere do medo, que é o cárcere mais cárcere de todos os cárceres. O deus
do mercado ameaça e castiga; e bem o sabe qualquer trabalhador, em qualquer
lugar. Hoje em dia, o medo do desemprego, que os empregadores usam para reduzir
seus custos de mão de obra e multiplicar a produtividade, é a mais universal
fonte de angústia. Quem está a salvo de ser empurrado para as longas filas dos
que procuram trabalho? Quem não teme ser transformado em um “obstáculo interno”,
isso para usar as palavras do presidente da Coca Cola, que há um ano e meio
explicou a demissão de milhares de trabalhadores dizendo “eliminamos os
obstáculos internos”?
E uma última pergunta: diante da globalização do
dinheiro que divide o mundo entre domadores e domados, seremos capazes de
internacionalizar a luta pela dignidade do trabalho? Haja desafio...
Galeano, Eduardo (1940-2015)
O teatro do bem e do mal.L&PM
Pocket, 2002. p 93-94
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