O
zelador era um funcionário húngaro com mais classe, de bota de cano firme e
bigode pontudo, como uma obra-prima de János Jankó. Era porteiro da prefeitura,
usava botas brilhantes, uniforme militar com cordões, um húngaro cheio de si
que não pegaria uma vassoura por nenhum dinheiro do mundo. Os afazeres
domésticos eram, naturalmente, da responsabilidade de sua esposa, ele
trabalhava para o patrão nobre e honrado, e ganhava o necessário para os dois
rapazes, que eram meus companheiros queridos; um deles se tornou mecânico e
depois se alistou na marinha, o outro fez curso superior, a mãe o vestia com
elegância, educava-o para ser senhor. O modo de vida elegante do zelador e sua
dose diária de aguardente, o material de escola, os trajes finos dos dois
rapazes, tudo era fruto do trabalho da velha mulher do zelador, dos tostões ganhos
na portaria, do dinheiro em troca da retirada do lixo, da ajuda para lavar e
passar, porque a mulher do zelador lavava, calandrava e passava para a casa
toda. Conseguiu fazer senhores dos dois rapazes, eles concluíram a escola e
depois tombaram na guerra. Com isso, a senhora do zelador também começou a
beber, e o casal bêbado foi expulso da casa.
Márai, Sandor (1900-1989)
Confissões
de um burguês.Tradução de Paulo Schiller. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.p
56-57.
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