No quarteirão da fábrica, portas se abriam
de todos os lados e logo ele era um dentre uma multidão que avançava
furiosamente na escuridão. Quando atravessou o portão da fábrica o apito soou novamente.
Deu uma olhada para o leste. Contra um rude horizonte de tetos e casas uma pálida
luz principiava a brotar. Isso foi tudo que viu no dia enquanto lhe voltava as
costas e reunia-se à sua turma de trabalho.
Tomou o seu lugar em uma das muitas longas
filas de máquinas. À sua frente, sobre um coche cheio de pequenas bobinas,
havia grandes bobinas girando com rapidez. Nestas, ele enrolava os novelos de
juta das bobinas menores. O trabalho era simples. Tudo que era preciso era
velocidade. As bobinas pequenas se esvaziavam tão rapidamente e havia tantas
bobinas grandes fazendo isso que não lhe sobravam momentos de ócio.
Trabalhava mecanicamente. Quando uma bobina
pequena se esvaziava, usava sua mão esquerda para pará-la, parando a bobina
grande e, ao mesmo tempo, com o polegar e o indicador, alcançar a ponta do
novelo de juta que se debatia. E, também ao mesmo tempo, com sua mão direita
alcançava a ponta solta de uma bobina pequena. Esses vários atos eram
realizados simultaneamente por ambas as mãos a toda velocidade. Aí elas se lançavam
à frente como dois raios enquanto levantava o laço e soltava a bobina. Não
havia nada de difícil nesses laços. Uma vez se gabara de que poderia atá-los
até durante o sono. Aliás, ele às vezes o fazia, suando longos séculos numa
única noite, atando uma sucessão infinita de laços de juta.
[...] Era o trabalhador perfeito. Sabia
disso. Assim tinham-lhe dito, inúmeras vezes. Era um lugar-comum e, além disso,
parecia não significar mais nada para ele. De trabalhador perfeito evoluíra
para tornar-se a máquina perfeita. Quando seu trabalho ia mal, é porque ocorria
com ele o mesmo que com uma máquina, era devido a material defeituoso. Era tão
plausível um cortador de unhas perfeito cortar unhas imperfeitas quanto ele
cometer um erro.
E não há por que se espantar. Jamais
houvera um tempo em que não tivesse vivido em íntimas relações com máquinas. As
máquinas quase tinham sido criadas dentro dele, de qualquer modo, ele tinha sido
criado junto delas.
London,
Jack (1876-1916)
De
vagões e vagabundos, memórias do submundo. Porto Alegre: L&PM Editores,
1985. p 15-16
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jeque lamdom jenio
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