Indicação das Artes de Primeira Classe (Das
mães das artes)
O
número de artes resultantes dos trabalhos a que a espécie humana se entrega é
tão considerável que não se pode assinar-lhe um limite. Todavia, há certo
número delas de que os homens reunidos em sociedade não podem prescindir; e há
outras, que são nobres por seu objeto; por isso faremos menção especial destas
duas classes, deixando o resto de lado. Como exemplo das artes absolutamente
necessárias, indicaremos a de cultivador, de pedreiro, de alfaiate, de
marceneiro e de tecelão, apontando, como artes nobres por seu objeto, o ofício
de escritor, de livreiro, de músico e de médico. A arte de partejar é
absolutamente necessária para a sociedade; a sua necessidade é geral; é quase
sempre graças a esta arte que o recém-nascido deve a conservação da vida e o
complemento de sua existência. A mais, esta arte tem um nobre objetivo: cuidar
das crianças que vão nascer e de suas mães. A medicina, ramo da física, é a
arte de conservar a saúde do homem e de o livrar das doenças; tem por objeto o
corpo humano. A escrita e a arte de ser livreiro que dela depende, servem para
fixar e conservar a lembrança do que o homem deseja guardar, para fazer chegar
aos países longínquos os pensamentos de sua alma, para eternizar nos livros os
produtos da reflexão e os conhecimentos científicos; e para dar às idéias uma
existência perpétua. A música é a arte de estabelecer certa harmonia entre os
sons, com o fim de tornar a beleza sensível ao ouvido. As três últimas artes colocam
os que as exercem em contato com os maiores soberanos e os introduzem na sua
sociedade íntima; possuem, pois, um grau de nobreza que não alcançam as outras
artes. De categoria inferior, estas últimas praticam-se habitualmente como
ofício de que se vive; mas tudo isso varia segundo as necessidades e os
projetos (dos que têm dinheiro para gastar). ‘Allah é o criador, o sábio’.
Ibn Khaldun (1332-1406)
Os prolegômenos ou
filosofia social.
Tradução integral e
direta do árabe de José Khoury e Angelina Bierrembach Khoury. São Paulo: Editora
Comercial Safady Limitada, 1959.
p.324, tomo 2.
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