domingo, 20 de maio de 2018

Das mães das artes


Indicação das Artes de Primeira Classe (Das mães das artes)

O número de artes resultantes dos trabalhos a que a espécie humana se entrega é tão considerável que não se pode assinar-lhe um limite. Todavia, há certo número delas de que os homens reunidos em sociedade não podem prescindir; e há outras, que são nobres por seu objeto; por isso faremos menção especial destas duas classes, deixando o resto de lado. Como exemplo das artes absolutamente necessárias, indicaremos a de cultivador, de pedreiro, de alfaiate, de marceneiro e de tecelão, apontando, como artes nobres por seu objeto, o ofício de escritor, de livreiro, de músico e de médico. A arte de partejar é absolutamente necessária para a sociedade; a sua necessidade é geral; é quase sempre graças a esta arte que o recém-nascido deve a conservação da vida e o complemento de sua existência. A mais, esta arte tem um nobre objetivo: cuidar das crianças que vão nascer e de suas mães. A medicina, ramo da física, é a arte de conservar a saúde do homem e de o livrar das doenças; tem por objeto o corpo humano. A escrita e a arte de ser livreiro que dela depende, servem para fixar e conservar a lembrança do que o homem deseja guardar, para fazer chegar aos países longínquos os pensamentos de sua alma, para eternizar nos livros os produtos da reflexão e os conhecimentos científicos; e para dar às idéias uma existência perpétua. A música é a arte de estabelecer certa harmonia entre os sons, com o fim de tornar a beleza sensível ao ouvido. As três últimas artes colocam os que as exercem em contato com os maiores soberanos e os introduzem na sua sociedade íntima; possuem, pois, um grau de nobreza que não alcançam as outras artes. De categoria inferior, estas últimas praticam-se habitualmente como ofício de que se vive; mas tudo isso varia segundo as necessidades e os projetos (dos que têm dinheiro para gastar). ‘Allah é o criador, o sábio’.

 Ibn Khaldun (1332-1406)

Os prolegômenos ou filosofia social.
Tradução integral e direta do árabe de José Khoury e Angelina Bierrembach Khoury. São Paulo: Editora Comercial Safady Limitada, 1959.
p.324, tomo 2.

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