A tradição bíblica ensina-nos que a
felicidade do primeiro homem antes da queda consistia na ausência de trabalho,
isto é, na ociosidade. O gosto da ociosidade manteve-se no homem réprobo, mas a
maldição divina continua a pesar sobre ele, não só por ser obrigado a ganhar o
pão de cada dia com o suor de seu rosto, mas também porque a sua natureza moral
o impede de encontrar satisfação na inatividade. Uma voz secreta diz ao homem
que ele é culpado de se abandonar à preguiça. E, no entanto, se o homem pudesse
achar um estado em que se sentisse útil e em que tivesse o sentimento de que
cumpria um dever, embora inativo, nesse estado viria a encontrar uma das
condições da sua felicidade primitiva. Esta condição de ociosidade imposta e
não censurável é aquela em que vive toda uma classe social, a dos militares. Em
tal ociosidade está e estará o principal atrativo do serviço militar.
Tolstoi,
Leon (1828-1910)
Guerra e Paz.
Tradução de João Gaspar
Simões. Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar S.A., 1976. p 837
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