Os legisladores instituíram dias de festa a
fim de que os homens se reunissem para se divertir em comum, interpondo aos
trabalhos a necessária interrupção; e os grandes varões tomavam todos os meses
alguns dias de férias, outros ainda os dividiam entre o ócio e as atividades. Recordamo-nos
assim de Polião Asínio, o grande orador, a quem nenhum assunto detinha além da
hora décima*: nem sequer as cartas ele lia após essa hora, a fim de que não
surgissem novas preocupações: e naquelas duas horas** reparava o cansaço do dia
todo. Outros repartiam pela metade o dia e deixavam para os trabalhos mais
leves as horas da tarde. Também nossos antepassados proibiam que ocorresse nova
discussão no Senado após a hora décima. Os soldados repartem entre si as
vigílias; e os que voltam da expedição ficam livres do serviço noturno. É
preciso ser indulgente com o espírito e dar-lhe, de tempos em tempos, um
repouso que lhe sirva de alimento e restauração. É preciso também passear por
espaços abertos, para que o espírito se fortifique e se eleve a céu livre e em
pleno ar; algumas vezes, um passeio, uma viagem ou uma mudança de região darão
vigor, ou mesmo um banquete e uma bebida em doses mais generosas.
*- quer dizer, além das quatro horas da
tarde. A hora décima correspondia ao período das 15 às 16 horas
**- a hora undécima (das 16 às 17 horas) e
a hora duodécima(das 17 às 18 horas) correspondiam aos dois últimos períodos do
dia; vinham a seguir as quatro partes da noite, conhecidas como vigílias pelos
antigos romanos.
Sêneca (4 aC - 65dC)
Sobre a tranquilidade da alma. Tradução
de José Rodrigues Seabra Filho, São Paulo: Editora Nova Alexandria, 2004. p71-2.
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