Sempre me fascinaram as explorações do
mundo intrapsíquico. Foi com a intenção de fazer sondagens nesse mundo que
estudei atentamente o desconexo palavreado dos esquizofrênicos; que observei
sua mímica, seus gestos, seus atos, quer estivessem inativos quer na prática de
atividades; que me debrucei sobre as imagens por eles livremente pintadas.
(...) Um dos caminhos menos difíceis que encontrei para o acesso ao mundo
interno do esquizofrênico foi dar-lhe a oportunidade de desenhar, pintar ou
modelar com toda a liberdade. Nas imagens assim configuradas teremos
auto-retratos da situação psíquica, imagens muitas vezes fragmentadas,
extravagantes, mas que ficam aprisionadas no papel, tela ou barro. Poderemos
sempre voltar a estudá-las. Foi observando-os e às imagens que configuravam,
que aprendi a respeitá-los como pessoas, e desaprendi muito do que havia
aprendido na psiquiatria tradicional. Minha escola foram esses ateliês.
Nise
da Silveira (1905-1999)
O mundo das imagens. São Paulo: Editora
Ática, 1992.
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