Gostaria de recomendar a meus colegas a
tomar, como modelo para o tratamento analítico, o cirurgião. De fato, este só
tem um objetivo: conduzir sua operação com toda a habilidade possível, deixando
de lado toda reação afetiva e até, toda simpatia humana. Nas condições atuais,
a mais perigosa tendência afetiva, a que mais ameaça o analista, é o orgulho
terapêutico, que o incita a utilizar, com a ajuda dos novos e tão controversos
meios que estão a sua disposição, qualquer coisa que possa convencer os outros.
Agindo assim, ele não só se coloca em uma posição desfavorável ao tratamento
com também se expõe, sem defesas, a certas resistências do paciente. Ora, não é
verdade que o resultado do tratamento depende em primeiro lugar, do jogo destas
resistências? A frieza de sentimentos que exigimos do analista se explica pelo
fato que ela cria, para as duas partes, as condições mais vantajosas pois, de
um lado, o médico consegue poupar suas próprias emoções e de outro, os doentes
têm garantida a maior ajuda que nos é possível lhes dar atualmente. Um
cirurgião dos tempos antigos tinha como lema esta frase: ‘eu o trato, Deus o
cura’. O analista deveria se contentar com alguma coisa análoga.
Freud, Sigmund (1856-1939)
La technique psychanalytique. 7 édition. Paris: PUF, 1981. p 67.
Tradução minha.
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