Há no Egito certas pessoas encarregadas por
lei de realizar os embalsamentos e que fazem disso, profissão. Quando elas
trazem um corpo, mostram aos portadores modelos em madeira, pintados ao
natural. O mais digno de atenção representa, segundo eles dizem, aquele cujo
nome tenho escrúpulos de mencionar aqui. Mostram depois um segundo modelo,
inferior ao primeiro e mais barato, e ainda um terceiro, perguntando, então,
por que modelo querem que seja o morto embalsamado. Combinado o preço, os
parentes retiram-se. Os embalsamadores trabalham em suas próprias casas e eis
como procedem nos embalsamentos mais caros: primeiramente, extraem o cérebro
pelas narinas, parte com um ferro recurvo, parte por meio de drogas
introduzidas na cabeça. Fazem, em seguida, uma incisão no flanco com pedra
cortante da Etiópia e retiram, pela abertura, os intestinos, limpando-os
cuidadosamente e banhando-os com vinho de palmeira e óleos aromáticos. O
ventre, enchem-no com mirra pura moída, canela e essências várias, não fazendo
uso, porém, do incenso. Feito isso, salgam o corpo e cobrem-no com natro,
deixando-o assim durante setenta dias. Decorridos os setenta dias, lavam-no e
envolvem-no inteiramente com faixas de tela de algodão embebidas em “commi”
(goma arábica), de que os Egípcios se servem ordinariamente como cola.
Concluído o trabalho, o corpo é entregue aos parentes, que o encerram numa urna
de madeira feita sob medida, colocando-a na sala destinada a esse fim. Tal a
maneira mais luxuosa de embalsamar os mortos.
Heródoto (484- 443 aC ?)
História. Tradução de J.Brito Broca. Rio de Janeiro:
Edições Ouro, 1968. p 182-83
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