Doce é projetar, rude é cumprir. Por isso não
se publicou ainda a antologia brasileira de poesia social, que o autor destas
linhas levou dois anos a compor, caceteando feio e forte amigos daqui e de São Paulo.
Lidas algumas centenas de volumes, sobraram uns tantos poemas, que pareceram
bons ou passáveis, e foram organizados segundo o plano da obra. Restava juntar-lhes
notas explicativas. Não juntei. Os originais formam um bolo bastante incômodo,
na gaveta, e cada vez que olho para esse bolo, me pergunto: Valerá a pena?
[...] Ao coligir o material da obra, notei
a relativa escassez de poemas inspirados nas técnicas de trabalho e na
personalidade dos trabalhadores. Boa parte de nossa poesia social fica em
declaração de princípios, isto é, não chega a produzir-se.
[...] Quando se dispões a cantar a vida ou
o tipo de ocupação dos trabalhadores, nossos poetas demonstram preferir a
generalidade, ou, quando muito, aqueles tipos que encerram um símbolo evidente.
De ordinário cantam simplesmente o trabalho, ou o trabalhador em geral, uma espécie
abstrata de trabalhador.
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