[...] Imagine-se entrando pela primeira vez
na aldeia, sozinho ou acompanhado de seu guia branco. Alguns dos nativos se reúnem
ao seu redor- principalmente quando sentem cheiro de tabaco. Outros, os mais
velhos e de maior dignidade, continuam sentados onde estão. Seu guia branco
possui uma rotina própria para tratar os nativos; ele não compreende e nem se preocupa
muito com a maneira como você, o etnógrafo, terá de aproximar-se deles.
[...] As informações que me foram dadas por
alguns dos moradores brancos do distrito, apesar de válidas para o meu
trabalho, eram ainda muito decepcionantes. Os brancos, não obstante seus longos
anos de contato com os nativos, e apesar da excelente oportunidade de observá-los
ou comunicar-se com eles, quase nada sabiam sobre eles. [...] Além disso, o
modo como meus informantes brancos se referiam aos nativos e expressavam suas
opiniões revelava, naturalmente, mentes não disciplinadas e, portanto, não
acostumadas a formular seus pensamentos com precisão e coerência. Ainda mais,
em sua maioria, como era de esperar, esses homens tinham preconceitos e opiniões
já sedimentadas, coisas essas inevitáveis no homem comum, seja ele administrador,
missionário ou negociante, mas repulsivas àqueles que buscam uma visão objetiva
e científica da realidade.
Malinowski, Bronislaw Kasper (1884-1942)
Argonautas do Pacífico ocidental: um
relato do empreendimento e da aventura dos nativos nos arquipélagos da Nova
Guiné melanésia. Tradução de Anton P. Carr e Lígia Aparecida Cardieri Mendonça.
São Paulo: Abril Cultural, 1984. p 19-20.
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