Sou um artesão; sinto necessidade de
trabalhar com minhas mãos. Gostaria de entalhar meu romance num bloco de
madeira. Minhas personagens...eu gostaria que fossem ainda mais pesadas, mais
tridimensionais. E gostaria de criar um homem em que todos, ao olhá-lo,
descobrissem seus próprios problemas... Minhas personagens têm uma profissão,
têm características; você conhece as idades delas, sua situação familiar e tudo
o mais. Mas tento fazer cada uma dessas personagens pesada, como uma estátua e
irmã de todo o mundo...E o que me deixa feliz são as cartas que recebo. Elas
nunca falam de meu lindo estilo; são as cartas que um homem escreveria para o
seu médico ou seu psicanalista. Dizem: "Você é alguém que me compreende.
Já me encontrei tantas vezes em seus romances!". E aí há páginas e páginas
de confidências- e não é gente maluca. Há também os malucos, é claro; mas
muitos são, ao contrário, gente que...até mesmo gente importante. Fico
surpreso.
Simenon,
George (1903-1989)
Os escritores: as históricas
entrevistas da Paris Review; tradução de Alberto Alexandre Martins e Beth Vieira.
São Paulo: Companhia das Letras, 1988. p 65
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