domingo, 10 de junho de 2018

Personagens tridimensionais


Sou um artesão; sinto necessidade de trabalhar com minhas mãos. Gostaria de entalhar meu romance num bloco de madeira. Minhas personagens...eu gostaria que fossem ainda mais pesadas, mais tridimensionais. E gostaria de criar um homem em que todos, ao olhá-lo, descobrissem seus próprios problemas... Minhas personagens têm uma profissão, têm características; você conhece as idades delas, sua situação familiar e tudo o mais. Mas tento fazer cada uma dessas personagens pesada, como uma estátua e irmã de todo o mundo...E o que me deixa feliz são as cartas que recebo. Elas nunca falam de meu lindo estilo; são as cartas que um homem escreveria para o seu médico ou seu psicanalista. Dizem: "Você é alguém que me compreende. Já me encontrei tantas vezes em seus romances!". E aí há páginas e páginas de confidências- e não é gente maluca. Há também os malucos, é claro; mas muitos são, ao contrário, gente que...até mesmo gente importante. Fico surpreso.
           

            Simenon, George (1903-1989)


Os escritores: as históricas entrevistas da Paris Review; tradução de Alberto Alexandre Martins e Beth Vieira. São Paulo: Companhia das Letras, 1988. p 65

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