Quando comecei a escrever histórias fantásticas,
ainda não me colocava problemas teóricos, a única coisa de que estava seguro
era que na origem de cada um dos meus contos havia uma imagem visual. Por
exemplo, uma dessas imagens era a de um homem cortado em duas metades que
continuavam a viver independentemente; outro exemplo poderia ser o do rapaz que
trepa numa árvore e depois vai passando de uma a outra sem nunca mais tocar os
pés no chão; outra ainda: uma armadura vazia que se movimenta e fala como se
alguém estivesse dentro dela.
[...] A primeira coisa que me vem à mente
na idealização de um conto é, pois, uma imagem que, por uma razão qualquer,
apresenta-se a mim carregada de significado, mesmo que eu não o saiba formular
em termos discursivos ou conceituais. A partir do momento que a imagem adquire
uma certa nitidez em minha mente, ponho-me a desenvolvê-la numa história ou
melhor, são as próprias imagens que desenvolvem suas potencialidades
implícitas, o conto que trazem dentro de si. Em torno de cada imagem
escondem-se outras, forma-se um campo de analogias, simetrias e contraposições.
Na organização desse material, que não é apenas visual mas igualmente
conceitual, chega o momento em que intervém minha intenção de ordenar e dar um
sentido ao desenrolar da história - ou antes, o que faço são procurar os
significados que podem ser compatíveis ou não com o desígnio geral que gostaria
de dar à história, sempre deixando certa margem de alternativas possíveis. Ao
mesmo tempo, a escrita, a tradução em palavras adquire cada vez mais
importância; direi que a partir do momento em que começo a por o preto no
branco é a palavra escrita que conta: à busca de um equivalente da imagem
visual se sucede o desenvolvimento coerente da importação estilística inicial,
até que pouco a pouco a escrita se torna dona do campo. Ela é que irá guiar a
narrativa da direção em que a expressão verbal flui com mais facilidade, não
restando à imaginação visual senão seguir atrás.
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