Abençoado seja o
camelô dos brinquedos de tostão:
O que vende
balõezinhos de cor
O macaquinho que
trepa no coqueiro
O cachorrinho que
bate com o rabo
Os homenzinhos que
jogam boxe
A perereca verde
que de repente dá um pulo que engraçado
E as
canetinhas-tinteiro que jamais escreverão coisa alguma.
Alegria das
calçadas
Uns falam pelos
cotovelos:
– “O cavalheiro
chega em casa e diz: Meu filho, vai buscar um pedaço de banana para eu acender
o charuto.
Naturalmente o menino pensará: Papai está malu...”
Outros, coitados,
têm a língua atada.
Todos porém sabem mexer nos cordéis com o
tino ingênuo de demiurgos de inutilidades.
E ensinam no
tumulto das ruas os mitos heroicos da meninice...
E dão aos homens que passam preocupados ou
tristes uma lição de infância.
Manuel Bandeira
(1886-1968)
Poesia completa e prosa
organizada pelo autor. Rio de Janeiro: Nova Aguillar, 1977. p 205.
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