quarta-feira, 27 de junho de 2018

Linguagem operatória

Se eu for um lenhador e se nomear a árvore que abato, qualquer que seja a forma de minha frase, falarei a árvore e não sobre ela. Isto quer dizer que a minha linguagem é operatória, ligada ao seu objeto de um modo transitivo: entre a árvore e mim, não há nada além de meu trabalho, isto é, um ato; eis uma linguagem política; apresenta-me a natureza somente na medida em que vou transformá-la, é uma linguagem através da qual ajo o objeto: a árvore não constitui para mim uma imagem, mas, simplesmente, o sentido do meu ato.
[...] Existe, portanto, uma linguagem que não é mítica, é a linguagem do homem produtor: sempre que o homem fala para transformar o real, e não mais para conservá-lo em imagem, sempre que ele associa sua linguagem à produção das coisas, a metalinguagem é reenviada a uma linguagem objeto e o mito torna-se impossível....


Barthes, Roland (1915-1980)



Mitologias. Tradução de Rita Buongermino e Pedro de Souza. Rio de Janeiro, São Paulo: Difel, 1978. p. 166


Nenhum comentário:

Postar um comentário