Se eu for
um lenhador e se nomear a árvore que abato, qualquer que seja a forma de minha
frase, falarei a árvore e não sobre ela. Isto quer dizer que a minha linguagem
é operatória, ligada ao seu objeto de um modo transitivo: entre a árvore e mim,
não há nada além de meu trabalho, isto é, um ato; eis uma linguagem política;
apresenta-me a natureza somente na medida em que vou transformá-la, é uma
linguagem através da qual ajo o objeto: a árvore não constitui para mim uma
imagem, mas, simplesmente, o sentido do meu ato.
[...] Existe,
portanto, uma linguagem que não é mítica, é a linguagem do homem produtor:
sempre que o homem fala para transformar o real, e não mais para conservá-lo em
imagem, sempre que ele associa sua linguagem à produção das coisas, a
metalinguagem é reenviada a uma linguagem objeto e o mito torna-se
impossível....
Barthes, Roland (1915-1980)
Mitologias. Tradução de Rita Buongermino e
Pedro de Souza. Rio de Janeiro, São Paulo: Difel, 1978. p. 166
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