sexta-feira, 15 de junho de 2018

Nas minas de carvão e de ferro

Nas minas de carvão e de ferro [...] trabalham crianças de 4, 5 e 7 anos. São empregues no transporte de minérios ou de carvão do local de extração para a galeria dos cavalos ou até ao poço principal, ou ainda para abrir e fechar as portas que separam os diferentes compartimentos da mina e regulam a sua ventilação, antes e depois da passagem dos operários e do material. São, normalmente, as crianças mais pequenas que se encarregam da guarda destas portas; estão assim sentadas durante doze horas na obscuridade, sós, num corredor estreito e, na maior parte dos casos, úmido, sem terem sequer uma tarefa que bastasse para se livrarem do tédio embrutecedor a que conduz a inação total. Pelo contrário, o transporte do carvão e do minério de ferro é um labor bastante penoso, pois é necessário arrastar estes materiais em enormes recepientes, sem rodas, pelo solo desigual da galeria, sobre a argila úmida ou ainda na água, muitas vezes içá-los ao longo das escarpas abruptas ou conduzi-los por corredores tão baixos em certos locais que os operários são obrigados a ir de gatas. É por isso que se utiliza para este trabalho fatigante crianças mais velhas e adolescentes do sexo feminino. Conforme os casos, há um operário por recepiente ou dois jovens, um dos quais puxa e o outro empurra. A separação do minério, efetuada por homens adultos ou jovens vigorosos de 16 anos ou mais, é igualmente um trabalho bastante penoso. A duração habitual do trabalho é de 11 a 12 horas e muitas vezes, superior. Na Escócia, chega a atingir 14 horas, acontecendo frequentemente fazerem-se jornadas de trabalho duplas, que obrigam os operários a trabalhar abaixo do solo 24 horas, por vezes mesmo 36, sem parar. As refeições a horas fixas são coisa desconhecida na generalidade, pelo que as pessoas comem quando têm fome e tempo disponível.



Engels, Friedrich (1820-1895)




A situação da classe trabalhadora na Inglaterra. Tradução de Conceição Jardim e Eduardo Lúcio Nogueira. Lisboa: Editorial Presença; São Paulo: Livraria Martins Fontes, 1975. p 326

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