Não faltam, em quase todas as cidades,
outros artífices vítimas das pestes metálicas, entre os quais estão os oleiros;
pois em que cidade ou em que país não se pratica a cerâmica, ou seja, a mais
antiga de todas as artes? Esses operários precisam de chumbo calcinado a quente
para vitrificar seus vasos e moem o chumbo em vasilhas de mármore, por meio de
um pau pendurado no teto, movido circularmente, o qual leva na outra
extremidade uma pedra quadrada, besuntando depois os vasos com chumbo liquefeito,
por meio de pincéis, antes de introduzi-los no forno; a virulência de chumbo
derretido e dissolvido na água é absorvida então pela boca, pelo nariz e por
todo o corpo, seguindo-se logo muitas e graves doenças. Primeiramente surgem
tremores nas mãos, depois ficam paralíticos, dementes, caquéticos, desdentados
e com lienteria, sendo raro encontrar-se um oleiro que não exiba fácies plúmbea
e cadavérica.
Ramazzini, Bernardino (1633-1714)
As doenças dos trabalhadores.
Tradução de Raimundo Estrela. São Paulo: Fundacentro, 2000. p 32.
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