sexta-feira, 15 de junho de 2018

A doença dos oleiros


Não faltam, em quase todas as cidades, outros artífices vítimas das pestes metálicas, entre os quais estão os oleiros; pois em que cidade ou em que país não se pratica a cerâmica, ou seja, a mais antiga de todas as artes? Esses operários precisam de chumbo calcinado a quente para vitrificar seus vasos e moem o chumbo em vasilhas de mármore, por meio de um pau pendurado no teto, movido circularmente, o qual leva na outra extremidade uma pedra quadrada, besuntando depois os vasos com chumbo liquefeito, por meio de pincéis, antes de introduzi-los no forno; a virulência de chumbo derretido e dissolvido na água é absorvida então pela boca, pelo nariz e por todo o corpo, seguindo-se logo muitas e graves doenças. Primeiramente surgem tremores nas mãos, depois ficam paralíticos, dementes, caquéticos, desdentados e com lienteria, sendo raro encontrar-se um oleiro que não exiba fácies plúmbea e cadavérica.

Ramazzini, Bernardino (1633-1714)


As doenças dos trabalhadores. Tradução de Raimundo Estrela. São Paulo: Fundacentro, 2000. p 32.

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