Creio que escrevo bem rápido. Mas isso
varia. Escrevo depressa por algum tempo; aí surgem frases em que fico
atrapalhado e pode ser que demore uma hora escrevendo uma única página. Porém,
isto é raro porque quando percebo que estou me atolando, pulo uma parte difícil
e continuo; volto a ela no outro dia mais disposto.
[...] Nunca faço qualquer correção durante
o processo da escrita. Digamos que escrevo uma coisa de qualquer jeito e então,
depois que baixa a poeira, deixo-a descansar por algum tempo, talvez um mês ou
dois - vejo-a com outros olhos. Aí, divirto-me a valer. Começo a trabalhar nela
com a machadinha. Mas nem sempre. Às vezes sai quase como eu gosto
[...] Quando estou revisando, uso caneta e
tinta para modificar, eliminar, inserir. Quando termino, o manuscrito está com
uma aparência ótima, parece um Balzac. Depois disso, passo a limpo e, enquanto
rebato, faço outras modificações. Prefiro rebater tudo eu mesmo, porque até
quando acho que já fiz todas as modificações que queria, a simples tarefa
mecânica de tocar as teclas aguça meus pensamentos e vejo-me revisando enquanto
faço a versão definitiva.
[...] Cada pessoa tem seu próprio caminho.
Afinal de contas, a maior parte dos escritos é feita longe da máquina de
escrever, longe da escrivaninha. Eu diria que acontece nos momentos calmos e
silenciosos, quando estamos caminhando, fazendo a barba, ou jogando uma partida,
ou seja o que for, ou até conversando com alguém por quem não temos um
interesse vital. A gente está trabalhando, a mente está trabalhando o problema
que está em nosso íntimo. Assim, quando vamos para a máquina de escrever é
apenas uma questão de transferência.
Henry Miller (1891-1980)
Os
escritores, 2. As históricas entrevistas da Paris Review; tradução de Luiza Helena
Martins Correia [et al.] São Paulo: Companhia das Letras, 1989. p 33, 34 e 35
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