Durante muito tempo dominou na Psicologia a
concepção segundo a qual a atividade intelectual prática tem uma estrutura psicológica
relativamente simples e se baseia em testes motores imediatos, por um lado, e
na noção visual direta, por outro. Essa concepção simplificava o pensamento
prático direto, opondo-o ao pensamento verbal abstrato. Tal concepção carece de
fundamento.
O pensamento prático direto não se realiza,
absolutamente, através de simples atos motores e imagens diretas; ele
compreende também a análise da situação direta com o auxílio da linguagem, que
permite ao homem distinguir nessa situação os elos mais
importantes, analisar as condições da tarefa e compor um plano para
resolvê-la. Neste sentido, o pensamento direto prático se aproxima do
pensamento lógico-verbal abstrato, com a única diferença de que o processo de
solução das tarefas está aqui voltado para as correções diretas dos objetos
perceptíveis. O pensamento de um construtor, que resolve uma tarefa prática de
construção, processa-se com a mesma orientação interna na condição da tarefa,
com a mesma discriminação dos componentes mais importantes e construção do
plano (estratégia) de ação que o pensamento de um físico ou lógico que resolve
uma complexa tarefa abstrata.
Luria, Alexander
Romanovich (1902-1977)
Curso de Psicologia Geral, volume IV,
Linguagem e pensamento. Tradução de Paulo Bezerra. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1979. p 9
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