Nenhuma outra técnica para a conduta da
vida prende o indivíduo tão firmemente à realidade quanto à ênfase concedida ao
trabalho, pois este, pelo menos, fornece-lhe um lugar seguro numa parte da
realidade, na comunidade humana. A possibilidade que essa técnica oferece de
deslocar uma grande quantidade de componentes libidinais, sejam eles
narcísicos, agressivos ou mesmo eróticos para o trabalho profissional e para os
relacionamentos humanos a ele vinculados, empresta-lhe um valor que de maneira
alguma está em segundo plano quanto ao de que goza como algo indispensável à
preservação e justificação da existência em sociedade. A atividade profissional
constitui fonte de satisfação especial se for livremente escolhida, isto é, se
por meio da sublimação, tornar possível o uso de inclinações existentes de
impulsos instintivos persistentes ou constitucionalmente reforçados. No
entanto, como caminho para a felicidade, o trabalho não é altamente prezado
pelos homens. Não se esforçam em relação a ele como o fazem em relação a outras
possibilidades de satisfação. A grande maioria das pessoas só trabalha sob
pressão da necessidade, e essa natural aversão humana ao trabalho suscita
problemas sociais extremamente difíceis.
Freud, Sigmund (1856-1939)
Obras
psicológicas: antologia organizada e comentada por Peter Gay. Rio de Janeiro: Imago
Editora, 1992, p 679.
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