A sala dos funcionários é uma peça grande,
mais ou menos clara, raramente de parquê. Este e a chaminé são especialmente
reservados para os chefes de seção e de divisão, bem como os armários, as
escrivaninhas e as mesas de acaju, as poltronas de marroquim encarnado ou
verde, os divãs, as cortinas de seda e outros objetos de luxo administrativo. A
sala dos funcionários tem uma estufa, cujo cano dá para uma chaminé tapada,
quando há chaminé. O papel do forro é liso, verde ou pardo. As mesas são de
madeira preta. O temperamento dos funcionários manifesta-se pelo modo de se
acomodarem. O friorento põe embaixo dos pés uma espécie de caixa de madeira. O
homem de temperamento bilioso sangüíneo tem somente um capacho; o línfático,
que teme os ventos encanados, a abertura das portas e outras causas de mudança
de temperatura, arruma um biombo com papelão. Há um armário onde cada um põe a
roupa de trabalho, as mangas postiças de pano, viseiras, barretes, solidéus
gregos e outros utensílios da profissão. A chaminé quase sempre está
atravancada de garrafas cheias de água, de copos e de cestos de almoço. Há
lâmpadas em certos locais escuros. A porta do gabinete onde está o subchefe
fica aberta, de modo que ele pode vigiar os funcionários, impedi-los de
conversar muito ou vir falar-lhes nas grandes circunstâncias.
Balzac, Honoré de
(1799-1850)
A comédia
humana. Estudos de costumes. Cenas da vida parisiense. Vol XI. Tradução de
Vidal de Oliveira [et alli]. São Paulo: Globo, 1991, p 158-9
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