domingo, 17 de junho de 2018

Criação artística

Um dos principais motivos da criação artística é certamente a necessidade de nos sentirmos essenciais em relação ao mundo. Este aspecto dos campos ou do mar, este ar de um rosto, por mim desvendados, se os fixo numa tela ou num texto, estreitando as relações, introduzindo ordem onde não havia nenhuma, impondo a unidade de espírito à diversidade da coisa, tenho a consciência de produzi-los, vale dizer, sinto-me essencial em relação à minha criação. Mas desta vez é o objeto criado que me escapa: não posso desvendar e produzir ao mesmo tempo. A criação passa para o inessencial em relação à atividade criadora. Primeiramente, mesmo que apareça aos outros como definitivo, o objeto criado nos parece estar sempre em suspenso: podemos sempre alterar esta linha, este colorido, esta palavra; assim, o objeto jamais se impõe. Um pintor aprendiz perguntou ao seu mestre: "Quando devo considerar concluído o meu quadro?" E o mestre respondeu: "Quando você puder olhá-lo com surpresa, dizendo: fui eu que fiz isso!”

            Sartre, Jean-Paul (1905-1980)


Que é a literatura? Tradução de Carlos Felipe Moisés. São Paulo: Editora Ática, 1989. p. 34

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