Um dos principais motivos da criação
artística é certamente a necessidade de nos sentirmos essenciais em relação ao
mundo. Este aspecto dos campos ou do mar, este ar de um rosto, por mim
desvendados, se os fixo numa tela ou num texto, estreitando as relações, introduzindo
ordem onde não havia nenhuma, impondo a unidade de espírito à diversidade da
coisa, tenho a consciência de produzi-los, vale dizer, sinto-me essencial em
relação à minha criação. Mas desta vez é o objeto criado que me escapa: não
posso desvendar e produzir ao mesmo tempo. A criação passa para o inessencial
em relação à atividade criadora. Primeiramente, mesmo que apareça aos outros
como definitivo, o objeto criado nos parece estar sempre em suspenso: podemos
sempre alterar esta linha, este colorido, esta palavra; assim, o objeto jamais se impõe. Um pintor aprendiz perguntou
ao seu mestre: "Quando devo considerar concluído o meu quadro?" E o
mestre respondeu: "Quando você puder olhá-lo com surpresa, dizendo: fui eu que fiz isso!”
Sartre, Jean-Paul (1905-1980)
Que é a literatura? Tradução de Carlos Felipe Moisés. São
Paulo: Editora Ática, 1989. p.
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