O
Dr. Behrens, com as pernas separadas e o tronco inclinado para trás, meteu o
estetoscópio sob o braço e começou a percutir a parte superior do ombro direito
de Joaquim; batia servindo-se do poderoso dedo médio da mão direita como
martelo e apoiando-se na mão esquerda. Depois, desceu pelo omoplata e apalpou
lateralmente a parte central e inferior das costas, feito o que Joaquim, bem
amestrado, levantou o braço para que o médico pudesse explorar também a região
axilar. Tudo isso se repetiu então no lado esquerdo. A seguir, o conselheiro
áulico deu ordem de meia volta para examinar o peito. Percutiu a zona logo
abaixo do pescoço, junto à clavícula, bateu acima e abaixo do peito, primeiro à
direita e depois à esquerda. Após ter percutido suficientemente, pôs-se a auscultar,
colocando o estetoscópio nas costas e no peito de Joaquim e apertando a orelha
contra a concha; dessa forma foi percorrendo todas as regiões anteriormente
apalpadas. Ao mesmo tempo era preciso que Joaquim ora respirasse com vigor ora
tossisse artificialmente, o que parecia fatigá-lo muito, pois ofegava e seus
olhos enchiam-se de lágrimas. O Dr. Behrens, porém, comunicava tudo o que ouvia
ao assistente sentado à escrivaninha, de modo que Hans Castorp não pode deixar
de pensar numa sessão no alfaiate, quando o elegante artífice toma as medidas
para um traje e, numa ordem tradicional vai colocando a fita métrica aqui e ali
em volta do corpo e dos membros do freguês, para então ditar as cifras assim
obtidas ao oficial que de costas encurvadas se empenha em anotá-las.
"Sopróide", "diminuído", ditava o Dr Behrebs.
"Vesicular", dizia e outra vez "vesicular"- parecia que
isso era bom sinal. "Rude" continuava, fazendo uma careta.
"Muito rude". "Estalido". E o Dr. Krokovski ia tomando
nota, como um aprendiz faz com os centímetros ditados pelo cortador.
Thomas
Mann (1875-1955)
A montanha mágica. 8 edição. Tradução
de Herbert Caro.Rio de Janeiro: Nova Fronteira,1980. p 201.
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