Acho que não se deveria escrever de modo
obscuro, pois um texto tem muito mais valor, e muito mais esperança de ser
difundido e se tornar eterno, quanto melhor for compreendido e quanto menos se
prestar a interpretações equívocas.
[...] Além disso, falar ao próximo numa
linguagem que ele não pode entender pode ser um mau hábito de alguns
revolucionários, mas não é realmente um instrumento revolucionário: ao
contrário, é um antigo artifício repressivo, conhecido de todas as Igrejas,
vício típico de nossa classe política, fundamento de todos os impérios
coloniais. É um modo sutil de impor a própria hierarquia: quando o padre
Cristóforo diz “Omnia munda mundis” (aos
puros, tudo parece puro) em latim a frei Fazio, que não sabia latim, este
último, “ao ouvir aquelas palavras carregadas de um sentido misterioso, e
proferidas tão resolutamente [...] achou que nelas devia estar contida a
solução de todas as suas dúvidas. Então se acalmou e disse: ‘Chega! Ele sabe
mais do que eu’.”
Levi, Primo (1919-1987)
O
ofício alheio. Tradução de Silvia Massimini Felix. São Paulo: Editora Unesp, 2016,
p 55 e 60
O trabalho que mais gosto: escrever.
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