Para tirar boas fotos, é preciso sentir muito
prazer. É impossível passar cinco anos de sua vida na África sem de fato gostar
desse continente. Inútil obrigar-se a contemplar pessoas trabalhando se isso
não o interessa. Para ficar vários meses dentro de uma mina, é preciso ter uma
motivação real. É preciso amar aquilo. Todos os que convivem com um fotógrafo
sabem disso: a coisa mais maçante do mundo é acompanhá-lo. Ele pode passar
horas a fio no mesmo lugar, os olhos cravados no visor. Adoro ficar assim, por
horas, espreitando, enquadrando, trabalhando a fundo a luminosidade. Depois
tudo acontece no laboratório. Trata-se de reconstituir minhas emoções numa
linguagem que não é real -pois o preto e branco é uma abstração- por meio da
gama de cinza do filme fotográfico. Antigamente, eu mesmo me dava esse prazer,
sozinho no laboratório, mas hoje confio a revelação a Dominique Granier.
Salgado, Sebastião (1944- )
Da minha terra à Terra. Tradução de Julia
da Rosa Simões. São Paulo: Paralela, 2014. p 49.
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