sábado, 28 de julho de 2018

A fotografia é minha vida


Para tirar boas fotos, é preciso sentir muito prazer. É impossível passar cinco anos de sua vida na África sem de fato gostar desse continente. Inútil obrigar-se a contemplar pessoas trabalhando se isso não o interessa. Para ficar vários meses dentro de uma mina, é preciso ter uma motivação real. É preciso amar aquilo. Todos os que convivem com um fotógrafo sabem disso: a coisa mais maçante do mundo é acompanhá-lo. Ele pode passar horas a fio no mesmo lugar, os olhos cravados no visor. Adoro ficar assim, por horas, espreitando, enquadrando, trabalhando a fundo a luminosidade. Depois tudo acontece no laboratório. Trata-se de reconstituir minhas emoções numa linguagem que não é real -pois o preto e branco é uma abstração- por meio da gama de cinza do filme fotográfico. Antigamente, eu mesmo me dava esse prazer, sozinho no laboratório, mas hoje confio a revelação a Dominique Granier.


Salgado, Sebastião (1944- )



Da minha terra à Terra. Tradução de Julia da Rosa Simões. São Paulo: Paralela, 2014. p 49.



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