domingo, 21 de outubro de 2018

Preconceitos patronais


Até hoje não pude me convencer de que um trabalho que se repete seja prejudicial ao homem. Aos bem-falantes ouço dizer que o trabalho repetido inutiliza corpo e alma. Minhas pesquisas, entretanto, negam isso. Um homem que passava o dia acionando com o pé um pedal, encasquetou que aquele movimento lhe desenvolvia o corpo de um lado só. O exame médico não comprovou o mal, mas designamo-lhe outro trabalho que pusesse em desenvolvimento o grupo de músculos prejudicados. Depois de algumas semanas pediu ele volta ao antigo posto. Parece racional que da repetição dos mesmos movimentos por oito horas diárias resultem anormalidades físicas, mas não o pudemos comprovar até agora em um só caso. Quando nossos homens querem mudar de serviço, basta que o peçam e nós desejaríamos que essas mudanças fossem a regra. Mas os operários são inimigos de mudanças que eles próprios não proponham. Realmente há operações de tal forma monótonas que parece incrível que alguém se conforme em exercê-las por muito tempo. A mais monótona é a do homem que ergue uma engrenagem com o gancho, mergulha-a numa tina de óleo e a deixa cair num cesto. Os movimentos não variam nunca....


Ford, Henry (1863-1947)




Os princípios da prosperidade. Tradução de Monteiro Lobato. Rio de Janeiro: Biblioteca Freitas Bastos, 1967. p 82.




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