Seria inteiramente contrário aos fins a que
nos propusemos dar colocação a um aleijado porque é aleijado, pagando-lhe um
salário reduzido e contentando-nos com um tipo baixo de produção. Seria um meio
de o socorrer momentaneamente, mas não seria a melhor maneira. A melhor maneira
é elevá-lo a um grau de produtividade igual ao dos sãos. A caridade do mundo,
sob forma de esmola, em pouquíssimos casos, creio eu, encontra justificativa. É
certo que não combinam bem negócio e caridade; o fim da fábrica é produzir e
ela serviria mal se não consagrasse a isto toda a sua capacidade. Mas somos
muito inclinados a crer, sem exame, que a plena posse de suas faculdades
constitui a condição fundamental para o melhor rendimento de um homem em
qualquer classe de trabalho. Com o intuito de formar juízo seguro, mandei
classificar todas as diversas operações da fábrica, segundo a espécie da
máquina e do trabalho, tomando em consideração se o trabalho físico era fácil,
mediano ou pesado; se era trabalho em seco ou em úmido; se limpo ou sujo; se
desempenhado em estufas ou fornalhas; se ocupava uma ou duas mãos; se
conservava o operário de pé ou sentado; se barulhento ou silencioso; se exigia
precisão; se em luz natural ou artificial; que número de peças era necessário
tratar por hora, qual o peso do material manejado e o esforça exigido do
operário. Além disso, os dados exatos sobre o esforço que o trabalho requeria
da parte do operador. O estudo demonstrou que se executavam na fábrica 7.882
espécies distintas de operações, entre as quais 949 classificadas como trabalho
pesado, exigiam homens robustos e de perfeita saúde; 3.338 espécies exigiam
desenvolvimento físico comum e força média. Entre as 3.595 espécies restantes,
nenhuma exigia força física superior à do homem mais fraco e débil, ou à das
mulheres e meninos.
Os trabalhos mais fáceis foram por sua vez
classificados, a fim de verificarmos quais exigiam o uso completo das
faculdades; comprovou-se que 670 podiam ser feitos por homens privados das duas
pernas; 2.637 por homens de uma só perna; em dois prescindiam-se os dois
braços; em 715 casos de um braço e em 10 casos a operação podia ser feita por
cegos. Das 7.882 espécies de trabalho, portanto, embora algumas exigissem força
corporal, 4.034 não exigiam o uso completo das faculdades físicas.
Ford,
Henry (1863-1947)
Os princípios da prosperidade. Tradução
de Monteiro Lobato. Rio de Janeiro: Biblioteca Freitas Bastos, 1967. p83.
Nenhum comentário:
Postar um comentário