sábado, 4 de agosto de 2018

Tecelões

O meu trabalho e de todos os tecelões é duma forma igual; nós trabalhamos umas oito horas direto, sem intervalo de descanso. Antes, eu trabalhava com doze máquinas, depois passaram para dezoito, agora tô com vinte e quatro; vai uma distância daqui até lá na outra esquina. Tem gente que está com trinta teares. Então, com esse aumento bárbaro de máquinas, a gente não para, a gente come andando, come a merenda que levamos andando, sanduíche, café, olhando a máquina que pára; a gente deixa assim em cima duma caixinha que tem, ou d’uma máquina que tiver parada, e vai lá e toca aquela máquina que parou, vai lá botar ela pra rodar, volta pra cima e olhando as outras, entendeu? A gente, quando há necessidade de ir no banheiro, então a gente vai, o máximo que pode passar lá fora é cinco minutos, três minutos, não pode passar mais do que isso. Isso o trabalho mesmo exige que nós fazemos isso, porque nós ganhamos pela produção e não podemos deixar o tear, porque não vai ficar ninguém lá tomando conta...E a responsabilidade é demais, demais mesmo, perfeição do pano, olhar, conhecer o defeito da máquina quando dá falha no tecido, no pano. O fio arrebenta muito, muito mesmo, a gente não consegue, sai d’uma, pega na outra, num anda um pouquinho torna a arrebentar, o tear para mesmo.

           

Cândido Pereira, Vera Maria



            O coração da fábrica: estudo de casos entre operários têxteis.      Rio de Janeiro:Editora Campus,1979.


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