O meu trabalho e de todos os tecelões é duma
forma igual; nós trabalhamos umas oito horas direto, sem intervalo de descanso.
Antes, eu trabalhava com doze máquinas, depois passaram para dezoito, agora tô
com vinte e quatro; vai uma distância daqui até lá na outra esquina. Tem gente
que está com trinta teares. Então, com esse aumento bárbaro de máquinas, a
gente não para, a gente come andando, come a merenda que levamos andando,
sanduíche, café, olhando a máquina que pára; a gente deixa assim em cima duma
caixinha que tem, ou d’uma máquina que tiver parada, e vai lá e toca aquela
máquina que parou, vai lá botar ela pra rodar, volta pra cima e olhando as
outras, entendeu? A gente, quando há necessidade de ir no banheiro, então a
gente vai, o máximo que pode passar lá fora é cinco minutos, três minutos, não
pode passar mais do que isso. Isso o trabalho mesmo exige que nós fazemos isso,
porque nós ganhamos pela produção e não podemos deixar o tear, porque não vai
ficar ninguém lá tomando conta...E a responsabilidade é demais, demais mesmo,
perfeição do pano, olhar, conhecer o defeito da máquina quando dá falha no
tecido, no pano. O fio arrebenta muito, muito mesmo, a gente não consegue, sai
d’uma, pega na outra, num anda um pouquinho torna a arrebentar, o tear para
mesmo.
Cândido Pereira, Vera Maria
O coração da fábrica: estudo de
casos entre operários têxteis. Rio de
Janeiro:Editora Campus,1979.
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