domingo, 29 de julho de 2018

Exército dos torturados



Não se trata de bestas atormentadas [...]. Trata-se de vinte lenhadores, de vinte lenhadores que uivam. São pendurados por três ou quatro horas, porque nem hoje, nem ontem, nem anteontem, produziram as toneladas de acaju que lhes correspondem. Vocês são uns pobres inocentes, uns ignorantes, mas dentro de três dias saberão o que são quatro toneladas. Duas toneladas é a produção normal de um lenhador experimentado e forte como um boi. E agora o cafajeste do Don Acácio quer que derrubemos quatro toneladas por dia. Quem não pode, penduram numa árvore, amarrado pelos quatro membros, e até mesmo pelos cinco, durante a metade da noite...Então os mosquitos chegam rondando, porque a coisa ocorre na beira dos pântanos, sem contar as formigas vermelhas, que chegam aos batalhões. Mas não necessito de lhes dar mais detalhes, em menos de uma semana vocês saberão tanto quanto eu e por experiência própria. A partir de então, serão iniciados em todos os mistérios de uma montaria pertencente aos irmãos Montellano; serão soldados do exército dos torturados. [...]
Antes nos batiam selvagemente quando não podíamos derrubar duas toneladas, mas chegamos a nos acostumar, e isso de nada lhes servia. Ao contrário, quanto mais nos batiam menos produzíamos. É por isso que os Montellano inventaram nos pendurar. É horrível, espantoso, mas somente enquanto se está pendurado. No dia seguinte já se pode trabalhar e derrubar as quatro toneladas. Esta nova invenção lhes deu resultado realmente eficaz, porque a lembrança, só a lembrança do sofrimento e o medo de ser pendurado novamente, fazem-te arranjar forças para derrubar as quatro toneladas, ainda que, na primeira, já tenhas as mãos esfoladas. Só que nós já atingimos o limite e breve a nova invenção também será inútil. Com Celso, por exemplo, já não existe o que fazer. Depois de estar pendurado quatro horas, Celso gritou para Guapo, que se aproximou para soltá-lo: “Eh filho da puta, chegas justamente quando melhor me sinto; eu estava adormecendo e te ocorre perturbar meu sono, poltrão!”. Celso foi o primeiro, agora somos seis. O segredo consiste em que os homens podem chegar a ser bois ou asnos e ficar impassíveis quando lhes espancam ou incitam, sempre que tenham conseguido afastar de dentro de si todo instinto de revolta.

B. Traven (1882-1969)


A rebelião dos torturados. Tradução de Carlos Alberto Oliveira Santos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965. p 58-60.


sábado, 28 de julho de 2018

Pittsburgh

Resultado de imagem para william eugene smith photos
W. Eugene Smith (1918-1978)

Fiandeira espanhola

Resultado de imagem para eugene smith spanish village
W. Eugene Smith (1918-1978)

A fotografia é minha vida


Para tirar boas fotos, é preciso sentir muito prazer. É impossível passar cinco anos de sua vida na África sem de fato gostar desse continente. Inútil obrigar-se a contemplar pessoas trabalhando se isso não o interessa. Para ficar vários meses dentro de uma mina, é preciso ter uma motivação real. É preciso amar aquilo. Todos os que convivem com um fotógrafo sabem disso: a coisa mais maçante do mundo é acompanhá-lo. Ele pode passar horas a fio no mesmo lugar, os olhos cravados no visor. Adoro ficar assim, por horas, espreitando, enquadrando, trabalhando a fundo a luminosidade. Depois tudo acontece no laboratório. Trata-se de reconstituir minhas emoções numa linguagem que não é real -pois o preto e branco é uma abstração- por meio da gama de cinza do filme fotográfico. Antigamente, eu mesmo me dava esse prazer, sozinho no laboratório, mas hoje confio a revelação a Dominique Granier.


Salgado, Sebastião (1944- )



Da minha terra à Terra. Tradução de Julia da Rosa Simões. São Paulo: Paralela, 2014. p 49.



sexta-feira, 27 de julho de 2018

Você está estrangulando o violino!


Os professores acompanham a execução de seus alunos, avaliando a qualidade do som produzido. Uma parte importante de seu trabalho é identificar como os movimentos do aluno interferem na sonoridade. Às vezes, isso não é óbvio, como nos exemplos a seguir, observados em aulas de violino e violoncelo em grupo.
O aluno toca o trecho uma vez. “Está estranho”, diz a professora que anda à sua volta, abaixa-se, inclina acabeça para enxergar entre a mão esquerda e o braço, toca levemente a mão do arco... Ela corrige a pega do arco, indica onde colocar o peso, a orientação dos dedos, e ele repete o trecho. A professora faz o aluno largar seu violino e arco: ele vai simular a posição da mão esquerda necessária para as notas especificadas na partitura apoiando seus dedos sobre o antebraço direito. Enquanto isso, ela corrige a pressão do polegar e os movimentos do anular e mínimo. Depois de corrigido o movimento da mão esquerda, montada a forma, o aluno repete o trecho tocando no instrumento. “Melhorou”; no entanto a professora identifica outro problema: o aluno está “pulando”, isto é, deixando de tocar uma nota. Como a causa não está aparente, eles repetem até que ela descobre o problema -o peso do quinto dedo da mão direita sobre o arco. Ela dá um apertão no dedinho, “para ele acordar!”
Em outro exemplo, a professora olha atentamente o aluno de 8 anos que empunha seu violino. “Acho que já descobri o que está acontecendo: esta mão não pode encostar aqui, tem que ficar longe!”
Vários professores recorrem ao artifício de interromper subitamente a execução para avaliar se a posição está correta. Por exemplo, enquanto ao aluno toca uma escala, o professor assiste e subitamente dispara: “Estátua!” Ele se desloca ao redor do aluno “congelado” e avalia, ao mesmo tempo que afasta os dedos do aluno eum do outro: Você às vezes esquece de abrir a mão! Sabe o que vai acontecer? A afinação vai, ó...”.


Vezzá, Flora



Afinar o movimento. Educação do corpo no ensino de instrumentos musicais. São Paulo: SESI-SP editora, 2018. p 67-8



O violinista azul

Resultado de imagem para o violinista
Marc Chagall (1887-1985)

quarta-feira, 25 de julho de 2018

Contradição


O mesmo espírito burguês que louva, como fator de aumento da força produtiva, a divisão manufatureira do trabalho, a condenação do trabalhador a executar perpetuamente uma operação parcial e sua subordinação completa ao capitalista, com a mesma ênfase denuncia todo controle e regulamentação sociais conscientes do processo de produção como um ataque aos invioláveis direitos de propriedade, de liberdade e de iniciativa do gênio capitalista. É curioso que o argumento mais forte até agora encontrado pelos apologistas entusiastas do sistema de fé, contra qualquer organização geral do trabalho social, seja o de que esta transformaria toda sociedade numa fábrica.
Na sociedade em que rege o modo capitalista de produção condicionam-se reciprocamente a anarquia da divisão social do trabalho e o despotismo da divisão manufatureira do trabalho.



Marx, Karl (1818-1883)



O Capital. Livro Primeiro, volume 1. Tradução de Reginaldo Sant’Anna. Rio de Janeiro:  Editora Civilização Brasileira, 1971, p 408.

Trabalho infantil nos Estados Unidos (1908)

Sadie, a cotton mill spinner, Lancaster, South Carolina, 1908, Lewis Hine.
Lewis Hine (1874-1940)

Ritmos

Uzbekistan brickmaking - Max Penson
Max Penson ( 1893-1959)


Entre vidros

БОРИС КУДОЯРОВ Без названия. Туркменистан. 1960
Boris Kudoyarov ( 1898-1973)

Enxada no ar

Resultado de imagem para haruo ohara
Haruo Ohara (1909-1999)

No cafezal

Haruo Ohara (1909-1999)

Na fábrica Renault

Kollar_11
François Kollar ( 1904-1979)

Fábrica de sapatos no Senegal

François Kollar ( 1904-1979)

O filho do açougueiro


Na loja, os fregueses faziam a alegria dele e de minha mãe ao falar do prazer que sentiam em ver como o garotinho para quem costumavam trazer doces [...] se transformara diante de seus olhos num jovem educado e bem-falante que moía a carne para eles, que espalhava e varria a serragem no chão, que arrancva zelosamente as penas que ainda restavam dos pescoços das galinhas, penduradas por ganchos à parede quando seu pai lhe dizia: “Markie, capricha aí em duas galinhas para a senhora fulana de tal”. Nos sete meses anteriores à minha entrada na universidade, ele me deu mais do que carne para moer e galinhas para aprontar. Ensinou-me a pegar uma costela de cordeiro e separar as costeletas, talhando cada uma e, ao atingir o fundo, usar o cutelo para afastá-las do resto. E me ensinava sempre da forma mais tranquila. “É só não acertar sua mão com o cutelo e tudo bem”, dizia. Ensinou-me a ser paciente com os fregueses mais exigentes, em especial com aqueles que precisavam ver a carne de todos os ângulos antes de comprá-la, com aqueles para os quais eu tinha de erguer a galinha para que literalmente olhassem o cu da ave a fim de se certificarem de que estava limpo. “Você não acredita o que algumas dessas mulheres te obrigam a fazer antes de comprar uma galinha”, ele explicava. E aí as imitava: “Vira ela. Não, pro outro lado. Deixa eu ver a parte de trás.” Cabia-me não apenas depenar as galinhas mas também eviscerá-las. Faz-se um corte para abrir um pouco a cloaca, enfia-se a mão e agarram-se as vísceras puxando-as para fora. Eu odiava essa parte. Nauseabunda e repugnante, mas tinha de ser feita. Foi isso que aprendi com meu pai e o que adorei aprender com ele: que a gente faz o que tem de fazer.



Roth, Philip (1933-2018)

Indignação. Tradução de Jorio Dauster. São Paulo: Companhia de Bolso, 2017. p 13.


domingo, 22 de julho de 2018

Ceifadoras

Resultado de imagem para maggie laubser
Maggie  Laubser (1886-1973)

O afiador de facas

Jean Discart
Jean Discart (1856-1944)

Vendedor de ovos

Resultado de imagem para pedro figari
Pedro Figari (1861-1938)

O secretário geral


Eis aqui os trabalhos de sua vida: entre cinco e seis convites diários, ele tinha que escolher a casa onde encontraria o melhor jantar. Cedo, ia fazer o ministro e sua esposa rirem, na refeição da manhã acariciava as crianças e brincava com elas. Depois, trabalhava uma ou duas horas, isto é, acomodava-se numa boa poltrona para ler os jornais, ditar a orientação de uma carta, receber quando o ministro não estava, explicar em grosso o trabalho, recolher ou distribuir algumas gotas de água benta da Corte, dar uma olhada, de monóculo, em petição ou as apostilar com uma assinatura que queria dizer: “Pouco se me dá, faça como quiser!”. Todos sabiam que quando Des Lupeaulx se interessava por alguém ou alguma coisa, tratava pessoalmente do caso. Permitia aos funcionários de alta categoria algumas palestras íntimas sobre os assuntos delicados e ouvia-lhes os diz-que-diz ques. De quando em quando, ia ao castelo receber a palavra de ordem. Afinal, esperava o ministro, quando este voltava da Câmara nos dias de sessão, a fim de saber se era preciso inventar e dirigir alguma manobra. O ministerial sibarita vestia-se, jantava e visitava doze ou quinze salões das oito às três da madrugada. Na Ópera, conversava com os jornalistas, pois estava com eles nas melhores relações deste mundo; havia entre eles uma contínua troca de pequenos serviços, impingia-lhes seus boatos e engolia os deles, impedia-os de atacar tal ou tal ministro sobre tal e tal assunto pois, dizia ele, aquilo causaria um verdadeiro pesar às esposas ou amantes dos titulares.
Em compensação, quando havia oportunidade, ele prestava serviço aos redatores, afastava todos os obstáculos para a representação de uma peça, dava a propósito gratificações ou um bom jantar, prometia facilitar a conclusão de um negócio. De resto, gostava de literatura e protegia as artes; tinha autógrafos, magníficos álbuns grátis, esboços, quadros. Fazia muitos benefícios aos artistas, não os prejudicando, amparando-os em certas ocasiões nas quais o amor próprio deles exigia uma satisfação pouco dispendiosa. Por isso tudo, era ele muito querido por toda a gente dos bastidores, pelos jornalistas e pelos artistas. Antes de mais nada, todos eles tinham os mesmos vícios e a mesma preguiça; ademais, troçavam tão bem de tudo entre dois aperitivos ou entre duas dançarinas! Se Des Lupeaulx não tivesse sido secretário geral, teria sido jornalista. Por isso, na luta dos quinze anos em que o malho da epigrama abriu a brecha por onde passou a insurreição, jamais Des Lupeaulx recebeu o mínimo golpe.

Balzac, Honoré de (1799-1850)



A comédia humana. Estudos de costumes. Cenas da vida parisiense. Vol XI. Tradução de Vidal de Oliveira [et alli]. São Paulo: Globo, 1991, p 128-9.

quinta-feira, 19 de julho de 2018

Coragem extrema

É impossível realizar-se um estudo detalhado num grupo de pacientes, durante vários anos, sem que se comece a gostar dos doentes que pesquisamos; e isto é especialmente verdadeiro no que diz respeito aos pós-encefálicos que, enquanto exercitando uma fascinação científica sem fim, tornam-se, com o passar dos anos, cada vez mais e mais queridos a nós como pessoas. Este sentido de afeição nem é estranha ou sentimental. Estudando estes pacientes a gente começa a amá-los e, ao amá-los, passa-se a compreendê-los: a pesquisa, o amor, a compreensão são uma única coisa. Os neurologistas são, quase sempre, vistos como pessoas de sangue frio, descobrindo síndromes como se fossem problemas de palavras cruzadas. Os neurologistas praticamente não ousam reconhecer a emoção - mas ainda assim,  a emoção, o calor do sentimento resplandece através de todo trabalho genuíno. Os estudos dos pós-encefálicos realizados por Purdon Martin não são friamente precisos mas sim calorosa e compassivamente precisos. A emoção, que é mantida implícita no texto, torna-se explícita na dedicatória de seu livro: "Para os pacientes pós-encefálicos do Highlands Hospital que me auxiliaram ansiosamente, na esperança de que outras pessoas pudessem se beneficiar com suas vidas irregulares."
Após passar quinze anos de minha vida trabalhando intimamente com estes pacientes, considero-os as pessoas mais sofridas e, apesar disto, as mais nobres que jamais conheci. Suas vidas foram espatifadas e irreparavelmente danificadas. Mas estranhamente, durante todos esses anos, deparei-me com pouca amargura por parte deles; ao contrário, descobri de alguma forma e além de uma explicação, uma imensa afirmação. Nesses pacientes existe uma coragem extrema, que se aproxima do heroico, de vez que foram experimentados ao máximo e assim mesmo sobreviveram.


Sacks, Oliver ( 1933-2015)


Despertando. Rio de Janeiro: Imago, 1988. p 252






Atletas não podem mentir

O esporte agrada porque é um dos poucos lugares onde as pessoas vêem trabalho. Um esportista, sem ser um intelectual ou um artista como na dança, no canto ou na ópera, não pode mentir. O homem político pode mentir, o ator pode mentir. Eu que me apresento ao banqueiro lhe dizendo que vou fazer o melhor filme do mundo e o ator que me diz ' vou atuar como ninguém atua', todos nós podemos criar uma ilusão. No esporte não. Ainda existem verdades: um atleta que fala 'eu salto 2,10 metros', a gente coloca uma barra para ele saltar e vê. Mas para chegar a isso, é preciso muito trabalho, muito treino. É por isso que amamos o esporte. Às vezes se faz algum truque, mas isso não dura muito tempo.





Godard, Jean- Luc (1930-)

Entrevista à Olivier Breton. Tradução de Clara Allain.  Folha de São Paulo, 10 de julho de 1994.


quarta-feira, 18 de julho de 2018

Sou lavrador

Sou lavrador
Homem da roça
Vivo cansado, meu Deus
Com a mão grossa

Planto batata
Planto batatinha
Eu raspo mandioca
E faço farinha.




Cantiga das 'descascadeiras" de mandioca da comunidade de Barreiras, em Barrocas- Bahia
CD " Cantos de trabalho". Direção artística: Renata Mattar.  SESC SP, 2007.

https://www.youtube.com/watch?v=_oeOYmNTEeY

terça-feira, 17 de julho de 2018

Da escrita obscura


Acho que não se deveria escrever de modo obscuro, pois um texto tem muito mais valor, e muito mais esperança de ser difundido e se tornar eterno, quanto melhor for compreendido e quanto menos se prestar a interpretações equívocas.
[...] Além disso, falar ao próximo numa linguagem que ele não pode entender pode ser um mau hábito de alguns revolucionários, mas não é realmente um instrumento revolucionário: ao contrário, é um antigo artifício repressivo, conhecido de todas as Igrejas, vício típico de nossa classe política, fundamento de todos os impérios coloniais. É um modo sutil de impor a própria hierarquia: quando o padre Cristóforo diz “Omnia munda mundis” (aos puros, tudo parece puro) em latim a frei Fazio, que não sabia latim, este último, “ao ouvir aquelas palavras carregadas de um sentido misterioso, e proferidas tão resolutamente [...] achou que nelas devia estar contida a solução de todas as suas dúvidas. Então se acalmou e disse: ‘Chega! Ele sabe mais do que eu’.”

Levi, Primo (1919-1987)




            O ofício alheio. Tradução de Silvia Massimini Felix. São Paulo: Editora Unesp, 2016, p 55 e 60



domingo, 1 de julho de 2018

O etnógrafo

Imagine-se o leitor sozinho, rodeado apenas de seu equipamento, numa praia tropical próxima a uma aldeia nativa, vendo a lancha ou o barco que o trouxe afastar-se no mar e desaparecer de vista.
[...] Imagine-se entrando pela primeira vez na aldeia, sozinho ou acompanhado de seu guia branco. Alguns dos nativos se reúnem ao seu redor- principalmente quando sentem cheiro de tabaco. Outros, os mais velhos e de maior dignidade, continuam sentados onde estão. Seu guia branco possui uma rotina própria para tratar os nativos; ele não compreende e nem se preocupa muito com a maneira como você, o etnógrafo, terá de aproximar-se deles.
[...] As informações que me foram dadas por alguns dos moradores brancos do distrito, apesar de válidas para o meu trabalho, eram ainda muito decepcionantes. Os brancos, não obstante seus longos anos de contato com os nativos, e apesar da excelente oportunidade de observá-los ou comunicar-se com eles, quase nada sabiam sobre eles. [...] Além disso, o modo como meus informantes brancos se referiam aos nativos e expressavam suas opiniões revelava, naturalmente, mentes não disciplinadas e, portanto, não acostumadas a formular seus pensamentos com precisão e coerência. Ainda mais, em sua maioria, como era de esperar, esses homens tinham preconceitos e opiniões já sedimentadas, coisas essas inevitáveis no homem comum, seja ele administrador, missionário ou negociante, mas repulsivas àqueles que buscam uma visão objetiva e científica da realidade.



Malinowski, Bronislaw Kasper (1884-1942)


Argonautas do Pacífico ocidental: um relato do empreendimento e da aventura dos nativos nos arquipélagos da Nova Guiné melanésia. Tradução de Anton P. Carr e Lígia Aparecida Cardieri Mendonça. São Paulo: Abril Cultural, 1984. p 19-20.