Daí à pedreira restavam apenas uns cinquenta passos e o chão era já todo coberto por uma farinha de pedra moída que sujava como a cal.
Aqui, ali, por toda a parte, encontravam-se
trabalhadores, uns ao sol, outros debaixo de pequenas barracas feitas de lona
ou de folhas de palmeira. De um lado cunhavam pedra cantando; de outro a
quebravam a picareta, de outro afeiçoavam lajedos a ponta de picão; mais
adiante faziam paralelepípedos a escopro e macete. E todo aquele retintim de
ferramentas, e o martelar da forja, e o coro dos que lá em cima brocavam a
rocha para lançar-lhe fogo, e a surda zoada ao longe, que vinha do cortiço,
como de uma aldeia alarmada; tudo dava a ideia de uma atividade feroz, de uma
luta de vingança e de ódio. Aqueles homens gotejantes de suor, bêbados de
calor, desvairados de insolação, a quebrarem, a espicaçarem, a torturarem a
pedra pareciam um punhado de demônios revoltados na sua impotência contra o
impassível gigante que os contemplava com desprezo, imperturbável a todos os
golpes e a todos os tiros que lhe desfechavam no dorso, deixando sem um gemido
que lhe abrissem as entranhas de granito.
Aluísio Azevedo (1857-1913)
Vozes da ficção: narrativas do mundo
do trabalho/Claudia de Arruda Campo, Enid Yatsuda Frederico e outras
(organizadores). São Paulo: Expressão Popular, 2011, p 23.
Gostei muito do texto!
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