Lá vem o acendedor de lampiões da rua!
Esse mesmo que vem infatigavelmente
Parodiar o sol e associar-se à lua
Quando a sombra da noite enegrece o poente!
Um, dois, três lampiões, acende e continua
Outros mais a acender imperturbavelmente,
À medida que a noite aos poucos se acentua
E a palidez da lua apenas se pressente.
Triste ironia atroz que o senso humano
irrita:_
Ele que doira a noite e ilumina a cidade,
Talvez não tenha luz na choupana em que
habita.
Tanta gente também nos outros insinua
Crenças, religiões, amor, felicidade,
Como este acendedor de lampiões da rua!
Jorge de Lima (1893-1953)
Poemas negros. Rio de Janeiro:
Alfaguara, 2016. p 110.
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