quinta-feira, 29 de julho de 2021

O acendedor de lampiões

Lá vem o acendedor de lampiões da rua!

Esse mesmo que vem infatigavelmente

Parodiar o sol e associar-se à lua

Quando a sombra da noite enegrece o poente!

 

Um, dois, três lampiões, acende e continua

Outros mais a acender imperturbavelmente,

À medida que a noite aos poucos se acentua

E a palidez da lua apenas se pressente.

 

Triste ironia atroz que o senso humano irrita:_

Ele que doira a noite e ilumina a cidade,

Talvez não tenha luz na choupana em que habita.

 

Tanta gente também nos outros insinua

Crenças, religiões, amor, felicidade,

Como este acendedor de lampiões da rua!

 

 

 

 

Jorge de Lima (1893-1953)

 

Poemas negros. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2016. p 110.

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