sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Leonardo da Vinci trabalhando


Matteo Bandello, autor do romance de Romeu e Julieta em que Shakespeare baseou sua peça, testemunhou com freqüência Leonardo empenhado na pintura da Última Ceia, no refeitório do mosteiro em que o tio do escritor era prior. Aqui está um relato fascinante do que ele viu: “Ele aparecia no convento muitas vezes ao amanhecer; e isso eu testemunhei pessoalmente. Subindo depressa pelo andaime, trabalhava diligentemente até que as sombras do final da tarde o obrigavam a parar, jamais se lembrando de comer, de tão absorvido no trabalho. Em outras ocasiões, ele passava três ou quatro dias sem mexer na pintura, aparecendo apenas por poucas horas para ficar parado na sua frente, de braços cruzados, contemplando as figuras como se as criticasse. Às vezes, ao meio-dia, quando o calor do sol em seu zênite esvaziava todas as ruas de Milão, eu o via sair apressado da cidade, onde estava modelando o seu cavalo colossal [o monumento equestre Sforfa], sem procurar qualquer sombra, seguindo pelo caminho mais curto até o convento, onde acrescentava um toque ou dois e voltava no instante seguinte”.


            Wasserman, Jack (1921-)


            Leonardo da Vinci. São Paulo: Record, 1984. p.92

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