Matteo Bandello, autor do romance de Romeu e
Julieta em que Shakespeare
baseou sua peça, testemunhou com freqüência Leonardo empenhado na pintura da Última Ceia, no refeitório do mosteiro
em que o tio do escritor era prior. Aqui está um relato fascinante do que ele
viu: “Ele aparecia no convento muitas vezes ao amanhecer; e isso eu testemunhei
pessoalmente. Subindo depressa pelo andaime, trabalhava diligentemente até que
as sombras do final da tarde o obrigavam a parar, jamais se lembrando de comer,
de tão absorvido no trabalho. Em outras ocasiões, ele passava três ou quatro
dias sem mexer na pintura, aparecendo apenas por poucas horas para ficar parado
na sua frente, de braços cruzados, contemplando as figuras como se as
criticasse. Às vezes, ao meio-dia, quando o calor do sol em seu zênite
esvaziava todas as ruas de Milão, eu o via sair apressado da cidade, onde
estava modelando o seu cavalo colossal [o monumento equestre Sforfa], sem
procurar qualquer sombra, seguindo pelo caminho mais curto até o convento, onde
acrescentava um toque ou dois e voltava no instante seguinte”.
Wasserman, Jack (1921-)
Leonardo
da Vinci. São Paulo: Record,
1984. p.92
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