Entrevistador: Como se apresenta
em sua mente a concepção de um conto? O tema, o enredo, algum personagem muda
conforme vais escrevendo?
Hemingway: Às vezes sei a história.
Às vezes vou compondo conforme escrevo e nem tenho ideia de como vai ficar. Tudo
muda conforme o desenrolar. É isso que faz o movimento, que faz a história. Às
vezes o movimento é tão lento que parece que não há movimento algum. Mas sempre
há mudança e sempre há movimento.
[...] Faço uma relação de títulos depois que
termino o conto ou o livro, à vezes chega a uns cem. Então, começo a eliminar
alguns, às vezes todos.
[...] Se o escritor deixa de observar, está
acabado. Mas ele não tem que observar conscientemente, nem pensar como isso vai
ser útil. Talvez seja assim no início. Mas depois, tudo que ele vê passa a
fazer parte da grande reserva de coisas que ele conhece ou já viu. Se é que
isso pode ter algum interesse, sempre escrevo segundo o principio do iceberg. Só
se vê um oitavo, os outros sete estão debaixo d’água. Tudo o que você sabe e
pode eliminar só fortalece o iceberg. Agora, se o escritor omite alguma coisa
porque não sabe o que é, então fica um buraco na história.
Hemingway, Ernest (1899-1961)
Os escritores 1: as históricas
entrevistas da Paris Review. Tradução de Alberto Alexandre Martins e Beth
Vieira. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.
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