O médico que vai atender a um paciente proletário
não se deve limitar a pôr a mão no pulso, com pressa, assim que chegar, sem
informar-se de suas condições; não delibere de pé sobre o que convém ou não convém
fazer, como se não jogasse com a vida humana; deve sentar-se, com a dignidade
de um juiz, ainda que não seja em cadeira dourada, como em caso de magnatas;
sente-se mesmo num banco, examine o paciente com fisionomia alegre e observe
detidamente o que ele necessita dos seus conselhos médicos e de seus cuidados
piedosos. Um médico que atende a um doente deve informar-se de muita coisa a
seu respeito pelo próprio e pelos seus acompanhantes, segundo o preceito de nosso
Divino Preceptor, “quando visitares um doente convém perguntar-lhe o que sente,
qual a causa, desde quantos dias, se seu ventre funciona e que alimento ingeriu”
são palavras de Hipócrates no seu livro “Afecções”; a estas perguntas devia-se
acrescentar outra: “Quam artem exerceas? (que arte exerce? qual a sua ocupação?)”.
Tal pergunta considero oportuno e mesmo necessário lembrar ao médico que trata
um homem do povo, que dela se vale para chegar às causas ocasionais do mal, a
qual quase nunca é posta em prática, ainda que o médico a conheça. Entretanto,
se a houvesse observado, poderia obter uma cura mais feliz.
Ramazzini, Bernardino (1633-1714)
As doenças dos trabalhadores. Tradução
de Raimundo Estrela. São Paulo: Fundacentro, 2000. p 25.
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