sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Conselho aos médicos: quam artem exerceas?


O médico que vai atender a um paciente proletário não se deve limitar a pôr a mão no pulso, com pressa, assim que chegar, sem informar-se de suas condições; não delibere de pé sobre o que convém ou não convém fazer, como se não jogasse com a vida humana; deve sentar-se, com a dignidade de um juiz, ainda que não seja em cadeira dourada, como em caso de magnatas; sente-se mesmo num banco, examine o paciente com fisionomia alegre e observe detidamente o que ele necessita dos seus conselhos médicos e de seus cuidados piedosos. Um médico que atende a um doente deve informar-se de muita coisa a seu respeito pelo próprio e pelos seus acompanhantes, segundo o preceito de nosso Divino Preceptor, “quando visitares um doente convém perguntar-lhe o que sente, qual a causa, desde quantos dias, se seu ventre funciona e que alimento ingeriu” são palavras de Hipócrates no seu livro “Afecções”; a estas perguntas devia-se acrescentar outra: “Quam artem exerceas? (que arte exerce? qual a sua ocupação?)”. Tal pergunta considero oportuno e mesmo necessário lembrar ao médico que trata um homem do povo, que dela se vale para chegar às causas ocasionais do mal, a qual quase nunca é posta em prática, ainda que o médico a conheça. Entretanto, se a houvesse observado, poderia obter uma cura mais feliz.




Ramazzini, Bernardino (1633-1714)


As doenças dos trabalhadores. Tradução de Raimundo Estrela. São Paulo: Fundacentro, 2000. p 25.

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