quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Amar o trabalho?


É preciso amar o trabalho, dizem nossos sábios: eh! Mas como? O que há de amável na civilização para os 9/10 dos seres a quem ele só causa desgosto, sem nenhuma vantagem? Por isso, os ricos, que dele só exercem a parte lucrativa e cômoda, a direção, geralmente lhe têm repugnância. Como fazer o pobre amá-lo se não se sabe torná-lo amado pelo rico?
A vida é um suplício perpétuo para nossos operários, obrigados a empregar doze horas consecutivas, muitas vezes quinze, num trabalho fastidioso. Os próprios ministros não estão isentos: há os que se queixam de ter passado uma jornada inteira na abominável tarefa de colocar sua assinatura em milhares de documentos contáveis.
[...]no estado atual, assegurar ao pobre direitos à soberania quando ele só pede o direito de trabalhar para o prazer dos ociosos não é insultá-lo?
Passamos séculos a discutir sobre os direitos do homem, sem sonhar em reconhecer o mais essencial, o do trabalho, sem o qual os outros nada são.

 

Fourier, Charles (1772-1837)




Théorie de l’unité universelle, 2 ed. Paris: 1838.
(tradução minha)

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