quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

“Nunca visto” x “sempre assim”


Abro aqui um parêntese: um dos grandes problemas dos sociólogos é evitar cair em uma ou outra das duas ilusões simétricas, a ilusão “nunca visto” (há sociólogos que adoram isso, fica muito chique, sobretudo na televisão, anunciar fenômenos inauditos, revoluções) e a do “sempre assim” (que é antes do feitio dos sociólogos conservadores: “nada de novo sob o sol, haverá sempre dominantes e dominados, ricos e pobres...”). O risco é sempre muito grande, tanto maior quanto a comparação entre épocas é extremamente difícil: apenas se pode comparar de estrutura a estrutura e sempre se corre o risco de se enganar e descrever como algo de inaudito algo banal, simplesmente por incultura. Essa é uma das razões que fazem com que jornalistas sejam por vezes perigosos: nem sempre sendo muito cultos, surpreendem-se com coisas não muito surpreendentes e não se surpreendem com coisas espantosas... A história é indispensável para nós, sociólogos.

 

 

Pierre Bourdieu (1930-2002)

 

 

Sobre a televisão. Tradução de Maria Lucia Machado. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 1997. p 61.

 

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