Abro aqui um parêntese: um dos grandes
problemas dos sociólogos é evitar cair em uma ou outra das duas ilusões
simétricas, a ilusão “nunca visto” (há sociólogos que adoram isso, fica muito
chique, sobretudo na televisão, anunciar fenômenos inauditos, revoluções) e a
do “sempre assim” (que é antes do feitio dos sociólogos conservadores: “nada de
novo sob o sol, haverá sempre dominantes e dominados, ricos e pobres...”). O
risco é sempre muito grande, tanto maior quanto a comparação entre épocas é
extremamente difícil: apenas se pode comparar de estrutura a estrutura e sempre
se corre o risco de se enganar e descrever como algo de inaudito algo banal,
simplesmente por incultura. Essa é uma das razões que fazem com que jornalistas
sejam por vezes perigosos: nem sempre sendo muito cultos, surpreendem-se com
coisas não muito surpreendentes e não se surpreendem com coisas espantosas... A
história é indispensável para nós, sociólogos.
Pierre Bourdieu (1930-2002)
Sobre a televisão. Tradução
de Maria Lucia Machado. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 1997. p 61.
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