terça-feira, 22 de novembro de 2022

Sem descanso

Descanso! Eu achava que conhecia o significado dessa palavra, mas estava enganado. Tinha descansado a vida toda e não sabia. Agora, porém, ficar sentado meia hora sem fazer nada, nem mesmo pensar, teria sido a coisa mais prazerosa do mundo. Por outro lado, é uma revelação. De agora em diante, poderei entender a vida dos trabalhadores. Eu não sonhava que o trabalho pudesser ser algo tão terrível. Das cinco e meia da manhã às dez da noite, sou escravo de todos e não tenho um único instante para mim, exceto quando consigo roubar um tempinho ao anoitecer, no término do segundo quarto de vigia. Se consigo parar um minuto para contemplar o oceano cintilante à luz do sol, ou para observar um marujo subir até a carangueja ou equilibrar-se no gurupés, sei que logo escutarei aquela voz abominável dizendo “Ei, Hump, não te faz de morto. Tô de olho”.

 

 

 

                                                                                                                Jack London (1876-1916)

 

O Lobo do Mar; tradução Daniel Galera. Rio de Janeiro: Zahar, 2015, p.80.

 

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