Era sobre uma pesquisa que tinha como objetivo entender a perspectiva
das crianças que viviam nas ruas da cidade [Brasília]. A equipe do projeto
teria entregue a cada menino e menina uma máquina fotográfica, dessas
feitas de lata, e pedira que eles registrassem aquilo que os oprimia. Como
era esperado, surgiram fotos de policiais, garçons e vendedores, figuras
responsáveis por enxotá-los dos lugares por onde costumam circular. Mas
um conjunto de imagens destoava de tudo isso – eram fotografias de uma
parede vazia, com um prego espetado no meio. Uma vez que as imagens
não faziam sentido para a equipe de pesquisadores, chamaram o menino
para conversar sobre o assunto. Ao contrário do que pensavam, ele havia
entendido o que queriam e explicou seu recorte: era engraxate, mas não
tinha autorização para trabalhar em qualquer lugar, por isso alugava
aquele espaço e o prego onde podia pendurar sua caixa. Era aquilo que o
oprimia, a exploração do trabalho.
Regina Dalcastagnè (1967-)
O prego e o rinoceronte. Porto Alegre: Zouk, 2021. p.15-16.
Nenhum comentário:
Postar um comentário