Às vezes você intervém e faz a pergunta boa; às
vezes você faz a pergunta errada; às vezes eu não falo e sinto que devia ter
falado. Você erra a todo momento. Erra e acerta. Não há ciência nisso. Às vezes
uma pergunta imbecil gera uma resposta absolutamente fantástica. Ou você dubla,
o que eu sou contra, ou vai assim mesmo. Agora, o pior de tudo é quando você
simplesmente não respeita o silêncio, que podia dar em alguma coisa, porque
fica ansioso demais. Mas é muito difícil, pois a pessoa pode estar sofrendo.
[...]Essa pessoa que aparentemente não sabe
nada tem uma extraordinária intuição do que você quer. Se o entrevistador
quiser respostas de protesto, de “esquerda”, ele vai ter; se quiser o contrário,
vai ter também. Essa é uma das coisas mais importantes a se quebrar, não
sugerir ao outro o que você quer ouvir. O que quer dizer respeitar uma pessoa? É
respeitar sua singularidade, seja ela uma escrava que ama a servidão, seja uma
escrava que odeia a servidão. Muitos documentaristas só ouvem as pessoas que dão
respostas de acordo com suas intenções, o que gera um acúmulo de respostas do
mesmo tipo, previsíveis, e que são aquilo que o diretor quer ouvir.
Coutinho, Eduardo (1933-2014)
Consuelo Martins. O documentário
de Eduardo Coutinho: televisão, cinema e vídeo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed,
2004. p 147 e 150.
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