É evidente que trabalho, terra e dinheiro não
são mercadorias. Nenhum desses três elementos é produzido para a venda. O
trabalho nada mais é do que os próprios seres humanos que fazem a sociedade; e
a terra, o meio natural no qual cada sociedade existe. Incluí-los no mecanismo
do mercado é subordinar a própria substância da sociedade às leis do mercado. [...]
Trabalho é
apenas outro nome da atividade econômica que acompanha a própria vida, a qual não
é produzida para a venda, mas por razões completamente diferentes, e essa
atividade não pode ser separada do resto da vida [...] Permitir que o mecanismo do
mercado dirija sozinho a sorte dos seres humanos e do meio natural, e até dos salários
e da utilização do poder de compra, teria como resultado destruir a sociedade.
Pois a pretensa mercadoria cujo nome é “força de trabalho” não pode ser pressionada
ou usada de um jeito qualquer, nem mesmo ser inutilizada sem que também seja
afetado o indivíduo humano portador dessa mercadoria particular. Ao dispor da
força de trabalho de um homem, o sistema teria a seu dispor a entidade física, psicológica
e moral do homem ligado a essa força. Privados da cobertura protetora das
instituições culturais, os seres humanos pereceriam.
Polanyi, Karl
(1986-1964)
La grande
transformation: aux origines politiques et économiques de notre temps. Paris: Gallimard, 1983. (tradução minha)
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