quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Força de trabalho não é mercadoria


É evidente que trabalho, terra e dinheiro não são mercadorias. Nenhum desses três elementos é produzido para a venda. O trabalho nada mais é do que os próprios seres humanos que fazem a sociedade; e a terra, o meio natural no qual cada sociedade existe. Incluí-los no mecanismo do mercado é subordinar a própria substância da sociedade às leis do mercado. [...] Trabalho é apenas outro nome da atividade econômica que acompanha a própria vida, a qual não é produzida para a venda, mas por razões completamente diferentes, e essa atividade não pode ser separada do resto da vida [...] Permitir que o mecanismo do mercado dirija sozinho a sorte dos seres humanos e do meio natural, e até dos salários e da utilização do poder de compra, teria como resultado destruir a sociedade. Pois a pretensa mercadoria cujo nome é “força de trabalho” não pode ser pressionada ou usada de um jeito qualquer, nem mesmo ser inutilizada sem que também seja afetado o indivíduo humano portador dessa mercadoria particular. Ao dispor da força de trabalho de um homem, o sistema teria a seu dispor a entidade física, psicológica e moral do homem ligado a essa força. Privados da cobertura protetora das instituições culturais, os seres humanos pereceriam.


Polanyi, Karl (1986-1964)


La grande transformation: aux origines politiques et économiques de notre temps. Paris: Gallimard, 1983. (tradução minha)



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