segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Bagaços vivos


Aplicava-se na forma máxima os métodos de aceleração e de adição. Extraía-se de cada indivíduo o máximo que ele podia fornecer, e cada um devia fornecer até a última grama de energia que pudesse haver em sua carcaça. Henry Ford, naturalmente, afirmava o contrário: escrevia com tanta inocência, com tanta convicção sobre a necessidade de investigações científicas para se obterem dados precisos sobre o potencial de trabalho que um operário pode fornecer sem cansaço, que não se podia acreditar que ele os fizesse trabalhar além desse ponto. Era falso, era mentira! Os operários de Henry tinham vontade de gritar quando liam esses artigos. Ainda estavam cansados quando começavam a trabalhar de manhã, e à tarde, quando deixavam o trabalho, estavam exaustos de fadiga; eram bagaços vivos donde se tinha espremido as últimas gotas de suco.
Isso não era só na fábrica Ford, em toda a bárbara indústria moderna era a mesma coisa. Mais ligeiro, sempre mais ligeiro, até que em seus corações os homens gritassem de desespero. Todas as fábricas de automóveis viviam entre si numa concorrência permanente e mortal, e, em cada fábrica, eram os diversos serviços que lutavam entre si e contra si, contra a produção anterior, contra as novas “normas” estabelecidas pelos engenheiros que estudavam os métodos, inventavam as novas máquinas e elaboravam novas técnicas.



Sinclair, Upton (1878-1968)


Ford, o rei dos automóveis baratos. Tradução de Casemiro M. Fernandes. Porto Alegre: Edição da Livraria do Globo, 1940. p 122



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