O diretor regressava para casa todo meio-dia,
sentava-se ao lado da mulher e de seus cinco filhos, rezava o pai-nosso, almoçava
e depois percorria o jardim, as árvores, as flores, as galinhas e os pássaros cantores,
mas nem por um instante perdia de vista o bom andamento da produção industrial.
Era o primeiro a chegar na fábrica e o último
a ir embora. Respeitado e temido, aparecia a qualquer hora, sem avisar, em qualquer
lugar.
Não suportava o desperdício de recursos. Os altos
custos e a produtividade baixa amargavam a sua vida. Sentia náuseas com a falta
de higiene e com a desordem. Podia perdoar qualquer pecado. A ineficiência, não.
Foi ele quem substituiu o ácido sulfúrico e o
monóxido de carbono pelo fulminante gás Zyklon B, foi ele quem criou os fornos crematórios
dez vezes mais produtivos que os fornos de Treblinka, foi ele quem conseguiu produzir
a maior quantidade de morte no menor tempo e foi ele quem criou o melhor centro
de extermínio de toda a história da humanidade.
Em 1947, Rudolf Höss foi enforcado em Auschwitz,
o campo de concentração que ele tinha construído e dirigido, entre as árvores em
flor às quais havia dedicado alguns poemas.
Galeano, Eduardo (1940-2015)
Espelhos, uma história quase
universal. Tradução de Eric Nepomuceno. Porto Alegre, RS: L&PM, 2008, p 280.
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