segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Dona Plácida

Era filha natural de um sacristão da Sé e de uma mulher que fazia doces para fora. Perdeu o pai aos dez anos. Já então ralava coco e fazia não sei que outros trabalhos de doceira, compatíveis com a idade. Aos quinze ou dezesseis casou com um alfaiate, que morreu tísico algum tempo depois, deixando-lhe uma filha. Viúva e moça, ficaram a seu cargo a filha, com dois anos, e a mãe, cansada de trabalhar. Tinha de sustentar a três pessoas. Fazia doces, que era o seu ofício, mas cosia também, de dia e de noite, com afinco, para três ou quatro lojas e ensinava algumas crianças do bairro, a dez tostões por mês. Com isso, iam-se passando os anos, não a beleza, porque não a tivera nunca.

 

Machado de Assis (1839-1908)

 

Memórias póstuma de Brás Cubas. Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2018.- (Série prazer de ler; n.13 e-book)

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