Ele empregava nada menos que dez moças, cuja tarefa era passar os corais por fios. Eram jovens e bonitas, com olhos firmes e mãos delicadas. Permaneciam sentadas junto a uma mesa comprida, com duas fileiras, e com delicadas agulhas pescavam os corais. Assim surgiam os lindos e bem proporcionados colares: nas extremidades se encontravam os corais menores; no meio, os médios; e no centro os maiores e os mais brilhantes. Enquanto trabalhavam, as moças cantavam em coro. Durante o verão, em dias quentes e ensolarados de céu azul, aquela mesa comprida, junto à qual as moças se sentavam para passar os corais pelos fios, era colocada no pátio e seus cânticos estivais eram ouvidos por toda a aldeia, sobrepondo-se ao das cotovias, que esvoaçavam pelo céu, e aos grilos nos jardins.
Existem mais tipos de corais do que imaginam
as pessoas que só conhecem os corais das vitrines das lojas. Há, primeiramente,
corais lapidados e corais brutos. Além disso, há corais com cortes retos nas
extremidades e outros, com cortes arredondados; corais em forma de espinhos ou
de bastonetes, que se parecem com arame farpado; corais amarelados e
reluzentes; corais de tonalidade vermelha e esbranquiçada, cuja cor se parece
com a das bordas superiores das pétalas de rosas chinesas; corais
rosa-amarelados, cor-de-rosa, cor de tijolo, cor de rubi, cor de azinhavre e,
por fim, corais que se parecem com gotas de sangue congeladas. Há corais esféricos
e semiesféricos; corais que se parecem com barris em miniatura e outros que se
parecem com minúsculos cilindros; há corais retos e tortos e até mesmo corais
corcundas. Há estrelas, espinhos, pontas, flores. Pois os corais são as mais
nobres plantas que existem nas profundezas dos oceanos, são rosas para as volúveis
deusas dos mares, tão abundantes em formas e cores quanto são diversos os
humores dessas deusas.
Joseph Roth (1894-1939)
O Leviatã. Edição Bilíngue português/alemão. Tradução Luis S. Krausz. São Paulo: Sesc Mojo, 2019. E-book
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