José, o aprendiz: Não conheço nenhum ofício, nem o de sapateiro nem o de colador de papéis, nem o de oleiro. Como animar-me, pois, a andar no meio daqueles que estão sentados exercendo o seu ofício, quem fazendo uma coisa, quem outra? Como me atreverei a assumir a responsabilidade de ver e fiscalizar?
Mont-kav, o superintendente: Acreditas que eu
saiba o ofício de sapateiro e de colador de papéis? Não sei fazer nem vasos,
nem cadeiras, nem ataúdes. Não é necessário que eu saiba, ninguém exige isso de
mim, muito menos aqueles que sabem fazer essas coisas. Porque a minha origem é
diferente da deles e outro o meu jaez; eu possuo um espírito universal e por
isso fui feito superintendente. Os operários nas suas oficinas não te vão
perguntar o que sabes, senão quem és, porque a isto está unida uma outra força
bem diversa, destinada exatamente à vigilância e fiscalização. Aquele que, como
tu, sabe falar diante do senhor, tendo arte de, com belas palavras, exprimir
pensamentos delicados, não deve ficar sentado e com a cabeça curvada sobre um
objeto único, mas deve caminhar ao meu lado entre os trabalhadores. Pois na
palavra e não na mão está o comando e o descortino.
Thomas Mann (1875-1955)
José e seus irmãos. Volume 2, José no Egito. Tradução de Agenor Soares de Moura. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1983.p 202-3.
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