sexta-feira, 29 de maio de 2020

A galvanização


O galpão estreito e úmido. O chão sempre cheio de água e ácidos. No meio as cubas. De um lado o tanque com ácido muriático para a limpeza das peças de ferro. Os tubos, barras e cantoneiras; peças já montadas ou parafusos e porcas passam primeiro por esse tanque para a limpeza geral. Depois são mergulhados na cuba do fluxo, concentrado de ácidos, e acaba a limpeza. Daí, através de talhas manejadas com muito esforço, as peças são levadas ao banho de zinco. O forno derrete os blocos de zinco que, a uma temperatura de determinados graus, espera o ferro para aderir a ele. Os homens que manejam as talhas suspendem as peças em cima da cuba de zinco e rapidamente se escondem atrás de uma espécie de cabine com um visor de vidro. Todos os operários da galvanização correm para se abrigar e os ferros mergulham no zinco provocando diversas explosões. O zinco fervendo, derretido, pula em qualquer direção. Passados pouco minutos e acabadas as explosões, os operários suspendem as peças de ferro, brilhantes, vestidas de zinco. Um novo esforço para levá-las até o tanque de resfriamento. Lá mergulham de novo. A água espirra ao contato com as peças quentes. Saindo da água as peças estão prontas para enfrentar a chuva e o calor; defendidas contra a ferrugem, se converterão em torres de eletrificação esquecidas no meio do mato, trazendo a corrente elétrica desde as usinas hidroelétricas até as cidades.
O galpão é estreito, úmido e obscuro, o chão sempre molhado de água e ácidos. Os operários com botas de borracha até os joelhos, luvas que cobrem as mãos e braços, com as camisas rasgadas ou sem camisa. Muitos deles com marcas de queimadura de zinco nas costas ou braços. O suor brilha na musculatura forte. O calor sufoca. O esforço grande, a tensão à flor da pele. Os ácidos se agarram às narinas, à garganta e aos pulmões. Amônia, ácido muriático, zinco, alumínio, cloreto de amônio e chumbo; todos esses elementos entram em jogo para a galvanização.
Os homens da galvanização se movem como sombras, correm, saltam, se escondem das explosões, voltam a aparecer no galpão estreito, úmido, obscuro e sujo. Os rostos sérios e tristes. Em toda a fábrica se brinca, se caçoa: na galvanização, não. É o trabalho mais duro e o menos remunerado no capitalismo subdesenvolvido.



Ignácio Hernandez (1932- )


Memória operária, Cidade Industrial Contagem (BH) 1968-1978. Belo Horizonte: Vega, 1979, pp138-139

Nenhum comentário:

Postar um comentário