O galpão estreito e úmido. O chão sempre
cheio de água e ácidos. No meio as cubas. De um lado o tanque com ácido muriático
para a limpeza das peças de ferro. Os tubos, barras e cantoneiras; peças já
montadas ou parafusos e porcas passam primeiro por esse tanque para a limpeza
geral. Depois são mergulhados na cuba do fluxo, concentrado de ácidos, e acaba
a limpeza. Daí, através de talhas manejadas com muito esforço, as peças são
levadas ao banho de zinco. O forno derrete os blocos de zinco que, a uma
temperatura de determinados graus, espera o ferro para aderir a ele. Os homens
que manejam as talhas suspendem as peças em cima da cuba de zinco e rapidamente
se escondem atrás de uma espécie de cabine com um visor de vidro. Todos os operários
da galvanização correm para se abrigar e os ferros mergulham no zinco
provocando diversas explosões. O zinco fervendo, derretido, pula em qualquer
direção. Passados pouco minutos e acabadas as explosões, os operários suspendem
as peças de ferro, brilhantes, vestidas de zinco. Um novo esforço para levá-las
até o tanque de resfriamento. Lá mergulham de novo. A água espirra ao contato
com as peças quentes. Saindo da água as peças estão prontas para enfrentar a chuva
e o calor; defendidas contra a ferrugem, se converterão em torres de eletrificação
esquecidas no meio do mato, trazendo a corrente elétrica desde as usinas hidroelétricas
até as cidades.
O galpão é estreito, úmido e obscuro, o chão
sempre molhado de água e ácidos. Os operários com botas de borracha até os
joelhos, luvas que cobrem as mãos e braços, com as camisas rasgadas ou sem
camisa. Muitos deles com marcas de queimadura de zinco nas costas ou braços. O
suor brilha na musculatura forte. O calor sufoca. O esforço grande, a tensão à
flor da pele. Os ácidos se agarram às narinas, à garganta e aos pulmões. Amônia,
ácido muriático, zinco, alumínio, cloreto de amônio e chumbo; todos esses
elementos entram em jogo para a galvanização.
Os homens da galvanização se movem como
sombras, correm, saltam, se escondem das explosões, voltam a aparecer no galpão
estreito, úmido, obscuro e sujo. Os rostos sérios e tristes. Em toda a fábrica
se brinca, se caçoa: na galvanização, não. É o trabalho mais duro e o menos
remunerado no capitalismo subdesenvolvido.
Ignácio Hernandez (1932- )
Memória operária, Cidade Industrial Contagem (BH)
1968-1978. Belo Horizonte: Vega, 1979, pp138-139
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