Muito trabalho dos forçados é consumido na
mera satisfação das necessidades básicas da prisão. Todo dia, na prisão,
trabalham cozinheiros, padeiros, alfaiates, sapateiros, aguadeiros, lavadores
de chão, faxineiros, vaqueiros etc. O trabalho dos forçados também é usado no
campo militar e na telegrafia; cerca de cinquenta pessoas formam a equipe que
trabalha na enfermaria da prisão, não se sabe em que e para quê, e nem há como
calcular aqueles que estão a serviço particular dos senhores funcionários. Todo
funcionário, mesmo um mero assistente de escritório, até onde pude verificar,
pode tomar para si criados em quantidade ilimitada. O médico, em cuja casa me
hospedei e que morava sozinho e com o filho, tinha um cozinheiro, um porteiro,
uma ajudante de cozinha e uma arrumadeira. Para um médico assistente de prisão,
isso é muito luxo. Um inspetor da prisão tinha oito serviçais particulares: uma
costureira, um sapateiro, uma arrumadeira, um lacaio, além de um menino de
recados, uma babá, uma lavadeira, um cozinheiro e um lavador de chão. A questão
dos criados em Sacalina é algo triste e ultrajante, como é, com certeza, em
toda parte em que existem trabalhos forçados, e tampouco se trata de uma questão
nova.
Anton Tchékhov (1860-1904)