O embaixador muito me aborrece, como eu
previa. Ele é o tolo mais pontual que pode haver; vai de passo a passo e é
complicado como uma prima solteira; uma pessoa que nunca está satisfeita
consigo mesma e a quem, por isso, ninguém poderá contentar. Gosto de trabalhar superando
as dificuldades facilmente, sem precisar nada mudar; mas ele é capaz de me
devolver um texto e dizer: “Está bom, mas passe os olhos novamente, sempre se
acha uma palavra melhor, uma partícula mais exata”. Aí tenho vontade de mandar
tudo às favas. Nenhuma vírgula, nenhuma conjunçãozinha pode ficar de fora, e é
inimigo mortal de todas as inversões que às vezes deixo escapar. Se os períodos
não forem construídos segundo a melodia tradicional, ele não entende nada do
que está escrito. É um sofrimento ter de lidar com uma pessoa assim.
Goethe, Johann Wolfgang (1749-1832)
Os sofrimentos do jovem Werther.
Tradução de Claudia Cavalcanti. São Paulo: Martin Claret, 2014. p 97.
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