Com o avanço da divisão do trabalho, a
ocupação da maior parte daqueles que vivem do trabalho, isto é, da maioria da
população, acaba restringindo-se a algumas operações extremamente simples,
muitas vezes a uma ou duas. Ora, a compreensão da maior parte das pessoas é
formada pelas suas ocupações normais. O homem que gasta toda sua vida
executando algumas operações simples, cujos efeitos também são, talvez, sempre
os mesmos ou mais ou menos os mesmos, não tem nenhuma oportunidade para
exercitar sua compreensão ou para exercer seu espírito inventivo no sentido de
encontrar meios para eliminar dificuldades que nunca ocorrem. Ele perde
naturalmente o hábito de fazer isso, tornando-se geralmente tão embotado e
ignorante quanto o possa ser uma criatura humana. O entorpecimento de sua mente
o torna não somente incapaz de saborear ou ter alguma participação em toda
conversação racional, mas também de conceber algum sentimento generoso, nobre
ou terno, e, conseqüentemente, de formar algum julgamento justo até mesmo
acerca de muitas das obrigações normais da vida privada. Ele é totalmente
incapaz de formar juízo sobre os grandes e vastos interesses de seus país; e, a
menos que se tenha empreendido um esforço inaudito para transformá-lo, é
igualmente incapaz de defender seu país na guerra. A uniformidade de sua vida
estagnada naturalmente corrompe a coragem de seu espírito, fazendo-o olhar com
horror a vida irregular, incerta e cheia de aventuras de um soldado. Esse tipo
de vida corrompe até mesmo sua atividade corporal, tornando-o incapaz de
utilizar sua força física com vigor e perseverança em alguma ocupação que não
aquela para a qual foi criado. Assim, a habilidade que ele adquiriu em sua
ocupação específica parece ter sido adquirida à custa de suas virtudes
intelectuais, sociais e marciais. Ora, em toda sociedade evoluída e civilizada,
este é o estado em que inevitavelmente caem os trabalhadores pobres — isto é, a
grande massa da população — a menos que o Governo tome algumas providências
para impedir que tal aconteça.
Adam Smith (1723-1790)
A riqueza das nações. São Paulo: Abril
Cultural, 1983. p 213-214.
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